Pepita

O nu é lindo. Não tem coisa mais linda que mulher pelada e toda vez que vejo uma nova capa da Vip ou da Playboy, minha mente divaga e me vejo lembrando de Pepita, a primeira mulher que vi nua na minha vida.

Já havia visto centenas de estrelas globais e atrizes de Hollywood sem roupa nas revistas playboy do meu pai, mas nunca tinha visto uma mulher nua de verdade. Morava no sertão da Paraíba, terra escaldante, chão seco e calor no ar. Chuveiro era coisa de rico, tomávamos banho mesmo de cuia, de bacia que buscava á água do tanque e expulsava o suor, a poeira, a sujeira no vai e vem da água a refrescar.

Pepita era a tia do meu melhor amigo, o Carlos. Ele morava em outro bairro e sempre vinha visitar a vò que era a nossa vizinha. Minha casa tinha um quintal grande e um muro que servia de fronteira entre minha casa e a casa da avó do Carlos. Como a Vó dele não queria mais que ele tivesse amizade comigo (encrencas de vizinhos); inventamos um código secreto, coisa de criança; imitávamos o som de um galo, se o outro cacarejasse de volta do outro lado do muro, era sinal que não havia adultos por perto e podíamos sair para brincar.

Aquela tarde, sabia que Carlos estava pra chegar e fui ao muro chamá-lo, mas não houve resposta para o meu cacarejar. Fiquei ali no quintal um pouco mais, esperando ouvir meu amigo, mas tudo o que comecei a escutar foi a voz de Pepita e o som de alguém tomando banho. Nunca fui de bisbilhotar e sempre foi um menino respeitador, como deve ser todo garoto que acabara de fazer a primeira comunhão, mas Pepita era uma jóia rara e devo confessar que ela se tornara a primeira musa na galeria de corpos que aprendi a apreciar.

Como disse, eu esperava por ele, não tinha a menor idéia que iria encontrá-la, mas a vontade de vê-la era incontrolável. Silenciosamente, coloquei dois tijolos para servir de base para que eu pudesse olhar por cima do muro e cuidadosamente fui erguendo o pescoço como se fosse um avestruz e á medida que o muro ia descendo e meus olhos subindo, vi Pepita a banhar-se.

Alguém consegue descrever a sensação de ver o primeiro eclipse? Do gosto da primeira barra de chocolate ou da primeira vez que se tira um 10 sem estudar? Por mais que eu tente, jamais vou conseguir descrever Pepita e a maneira como ela tomava banho no muro, retirando a bacia cheia de água do tanque e derramando sobre o seu corpo.

Meus olhos curiosos, meus dedos imaginários percorriam seu corpo junto com cada gota que deslizava e refrescava a sua pele, suavizando o calor. Como descrever a maneira como á água descia pelo seu corpo, como riacho por entre seus picos, refletindo os raios do sol que tornava seu monte de Vênus dourado. Meu corpo de garoto parecia querer explodir em combustão; sentia vontade de tocar-me, de saciar aquela vontade, aquele desejo; mas ao mesmo tempo queria ficar parado, concentra-me no “ver mais”, aprendiz de voyeur, na tentativa de prolongar aquele momento para toda a eternidade.

Mas na vida tudo é equilíbrio. Sol e lua, bem e mau. Diante da figura daquele ser celestial, havia a figura endiabrada do meu amigo que surgiu do nada, cacarejando no meu ouvido: Cocoricococó!

Pepita soltou um grito e eu quase cai de onde estava, enquanto o desgraçado não parava de rir. Olhei uma última vez para o lugar onde ela estava e só restava a bacia meio cheia, meio vazia e os raios de sol que procuravam como eu, as curvas e a pele de Pepita.

- Pô tá vendo a minha tia pelada! – dizia em tom de sacanagem e rindo sem parar.

- Cala a boca – ordenei sem sucesso. Havia deixado a porta aberta e como não havia ninguém em casa além de mim, o babaca entrara e me pegara espiando a sua tia.

- Que gosto, meu. Minha Tia é um canhão! – ele dizia ainda caçoando, rindo quase sem fôlego entre uma e outra palavra.

Canhão? Não. Ela era dourada, um peixe dourado em um rio cheio de piabas. Talvez jamais visse Pepita nas capas de revistas ou sendo coroada Miss, mas ela era a minha primeira mulher nua e carregaria sua imagem comigo pelo resto da minha vida.