9079844_zcIKB.jpeg


Naquele 11 de Setembro


Naquele onze de setembro, o dia amanheceu um pouco frio aqui em Petrópolis. Acordei muito cedo - às cinco da manhã - a fim de preparar-me para ir ao trabalho. Naquela época, eu lecionava em um curso de inglês, e minha primeira aula começaria às sete da manhã. Sempre gostei de acordar a tempo de tomar um banho, arrumar-me adequadamente, sentar-me para tomar um bom café e começar o dia sem pressas e afobações.

Meu marido estava dormindo na casa dos pais naquela época, pois sofrera um acidente enquanto jogava futebol e teve que passar por uma cirurgia para reparar o tendão de Aquiles, que partira. Como tínhamos escadas em casa, as quais ele não poderia usar devido à operação, ele ficou na casa dos pais. Eu fiquei em casa para cuidar de Aleph, nosso cão.

Lembro-me que tomei meu café da manhã, lavei a louça e me aprontei para o trabalho; vesti uma blusa de lã preta, que tinha alguns fiozinhos brilhantes multicores entremeados à lã. Também estava usando calças jeans e um par de botas pretas. Não sei como, mas o que eu vestia ficou marcado. Geralmente, não me lembro nem do que vestia no dia anterior.

Fui para o curso. Saí do ônibus em frente à Catedral São Pedro de Alcântara, como sempre fazia, e segui à pé pela avenida Koeller. A rua estava deserta, silenciosa e fria. Naquele instante, os sinos da catedral estavam tocando.

Cheguei ao curso, cumprimentei as pessoas e comecei meu dia de trabalho. Ao término da segunda aula, enquanto me dirigia para o corredor, ouvi  pessoas gritando na sala de vídeo, e fui ver do que se tratava. Quando cheguei à porta, achei que se tratasse de algum filme, e perguntei: "Que filme vocês estão vendo?" Havia professores e alguns alunos de pé na sala de vídeo. Uma das professoras veio em minha direção, muito angustiada, repetindo: "Um avião bateu no World Trade Center!" Ainda não sabíamos que se tratava de um ataque terrorista.

Olhei para tela, e vi uma das torres em chamas. Naquele exato momento, o segundo avião atingiu a segunda torre. Eu vi tudo ao vivo. Ainda achando que fosse um filme, eu não soube o que dizer, até que vi que era sério.

Ao sair na rua, por volta de meio-dia, fui a uma loja comprar algumas coisas que meu marido precisava. Nas ruas, as pessoas só falavam naquele assunto, e havia pequenas multidões nas portas das lojas e bares que tinham aparelhos de TV. Parecia que eu caminhava por um mundo sobrenatural.

Ao chegar à casa de meus sogros, a primeira coisa que meu marido me disse foi: "Já soube?"

Acho que todo mundo se lembra com detalhes do que estava fazendo naquele dia. E ninguém jamais o esquecerá. Minto; pelo desenrolar dos acontecimentos que estão em andamento no mundo de hoje, acredito que muitos já se esqueceram.



 
Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 11/09/2013
Reeditado em 11/09/2013
Código do texto: T4476722
Classificação de conteúdo: seguro