O dia em que minha memória voou!
Sabia que faltavam vinte minutos, para o que não me lembrava! O diabete devia estar lá nas alturas, uma vez que, desobedecendo à regra de sobrevivência parei em uma confeitaria e recordei meus tempos de adolescente que comia uma fatia gigante de torta de chocolate. E já que era para lembrar, não comi uma, comi duas, de quebra um guaraná. Afinal torta com guaraná é delícia!
Peguei minha agenda e abri tentando ver se havia alguma anotação do meu destino. Agenda é um livreto organizado por dias, com espaço para tudo, mas que rabiscamos a torta e a direita. Acho que existem alguns organizados. Mas eu? Eu deveria morar em uma praia deserta, só habitada por duas dúzias lindas mulheres, pois assim talvez não me esquecesse o porquê dos homens serem diferentes delas. Elas são organizadas!
O relógio agia como meu inimigo, já faltavam apenas dezesseis minutos, só encontrava anotações já passadas. Mais ainda me encabulei quando percebi que eu havia trazido o paletó, o mesmo que uso quando sou obrigado e que usarei quando por questões fúnebres me vestirem. E os minutos passando, eu olhando ao meu redor para encontrar com os olhos alguma coisa que pudesse me resgatar a memória, que certamente tinha ido por estômago abaixo!
Para que fui lembrar dos meus tempos de rapaz? Questionei tão alto que uma beata indo ao rumo da igreja ficou corada, Terá ela lembrando alguma coisa do seu tempo de moçoila? Não havia tempo nem de lhe pedir desculpas pelo quase-grito no ouvido, e nem menos perguntar se havia lembrado de algo ou não! Já me sobravam onze minutos, para que? O celular estava na área, mas a área estava fora do ar temporariamente, e no visor a mensagem: “Procurando rede”. Juro que me deu vontade de procurar uma também!
E faltavam somente oito cruciais minutos, e eu não conseguia lembrar a razão de estar vestido como se fosse viajar. Contudo, instintivamente continuei andando pela avenida de calçadas largas, onde quem sabe meus pensamentos expenderiam e localizariam enfim para onde eu deveria ir. Nada, cheguei ao fim da calçada! Foi quando me lembrei, não o que eu queria lembrar, mas que já me aproximava do aeroporto. E como tantos outros me surpreendo com o vôo das aeronaves. E já que estava ali, e faltavam dois minutos para não sei o que? Resolvi olhar a chegada do avião, faltava minuto e meio para ele pousar!
Desisti de querer saber o que eu ia fazer, já que certamente não daria tempo para chegar onde me propus, ao sair de casa. O aeroporto lotado e lá vinha o gigante voador com mais vinte minutos de atraso para marcar o gol de chegada, tocando como um pássaro à pista de chegada para uma bonita rolagem até ao local de desembarque e embarque. Eu, já conformado com o “branco” que me dera, procurava tirar proveito daquele momento passei a conversar com um amigo que estava na fila do chek in. Foi quando a “solo-moça”, aquela que não voa, mas se traja tão elegantemente como as aeromoças, pediu para verificar o meu bilhete. Bilhete de passagem? E não é que eu ia também pegar o avião!
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(*) Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, DRT-398/BA, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi Bahia... É jornalista investigativo, escritor, poeta, e adepto do humor. Também conhecido como “Jornalista do Sertão”. Já se aproximando dos sessenta anos é diabético e operado do coração!