A nem sempre fácil arte de escrever


 Construir um texto nem sempre é fácil, mesmo para profissionais. Acredito que para eles talvez seja ainda mais difícil. Deve ser complicado criar sob pressão, seja para redigir uma matéria de jornal, de revista ou de outros tipos de publicação, impressos ou virtuais, como para concluir um livro com prazo estabelecido pela editora.
  Atualmente, até os autores de novelas contam com equipe de colaboradores na construção de um enredo. Fica praticamente impossível dar conta sozinho da demanda de capítulos que, muitas vezes, têm de estar prontos em prazos curtos para as gravações. Uma novela é uma obra aberta, mas o tempo é “fechado”, ou seja, limitado. Quando o primeiro capítulo é exibido já se sabe a data do último, portanto, o autor e sua equipe têm, em média, seis meses para concluir todo o trabalho. E que trabalho! Ou você acha que é moleza criar uma trama com dezenas de personagens, com histórias que se cruzam, com temas e subtemas, que seja coerente e convincente, que agrade ao público, que dê audiência para a emissora, enfim, que seja um sucesso? Aqui estou falando apenas da criação do enredo e não da produção, porque aí seria outro “capítulo”.
  Inspiração não é coisa que surge a toda hora. Não acredito que alguém possa ser capaz de estar inspirado o tempo todo. Ainda mais com a vida corrida, com tantas preocupações e obrigações que afetam qualquer mortal.
  Muitas vezes, a inspiração surge em momentos inapropriados como, por exemplo, no meio do trânsito. Como parar, anotar a ideia para desenvolvê-la depois? Às vezes é impossível e, quando for possível, talvez você a tenha perdido. Tantas outras coisas o distraíram ou ocuparam que aquela ideia que originaria um belo texto simplesmente desapareceu. Não adianta forçar a memória, ela não “salvou o arquivo”.
  Há momentos em que as ideias são tantas que você não consegue organizá-las. Esta é uma situação angustiante porque você quer escrever sobre uma porção de coisas e acaba não escrevendo sobre nenhuma, pois acabou atropelado pelo próprio pensamento. Angustiante também é sonhar com um texto e, ao acordar, não conseguir lembrar de uma só linha do que sonhou. Nem tente dormir de novo, aquele sonho (ou texto) não vai voltar. Também é terrível quando você está deitado, pronto para dormir e as palavras estão passeando em sua mente, mas o sono é tanto, os olhos estão pesados e você não consegue se levantar, ir até à escrivaninha passar para o papel. Mais uma ideia perdida porque na manhã seguinte dificilmente você se lembrará dela.
  Porém, não há momento de maior frustração do que aquele em que você quer muito escrever e simplesmente não surge absolutamente nada. Faltar ideias e palavras para um escritor é como faltar a voz para um cantor. Dá desespero, sensação de impotência e de fracasso. Nesses momentos não há o que fazer a não ser esperar até que o clic volte. É assim mesmo, é como se sua cabeça fizesse um clic e voltasse a funcionar. É como se tivesse faltado energia elétrica durante horas (às vezes dias) e, de repente, acende a luzinha do stand by. Pronto, o sistema é restabelecido e a produção recomeça.
  Já li e ouvi de escritores de sucesso que é preciso ter disciplina para escrever, esteja ou não inspirado. Ainda que você não saiba o que, por que e como escrever, é preciso fazê-lo todos os dias, impreterivelmente. Segundo eles, o cérebro precisa ser exercitado diariamente. Assim como os músculos exigem movimento para se manterem fortes e saudáveis, o cérebro também precisa “movimentar-se” só que pensando, criando, construindo e desconstruindo ideias. Não importa se você conseguirá chegar à página dez do romance que começou a escrever, mas terá de chegar até a cinco. Este é o ponto: estabelecer uma meta para cada dia. O interessante, eles dizem, é que às vezes ocorre de você ultrapassar a meta. Se forem estabelecidas dez páginas você pode chegar a vinte ou mais, porque vai adquirindo ritmo, porque quanto mais escreve mais fica impelido a escrever. Vale o mesmo para quem escreve textos curtos sejam contos, crônicas, poemas, poesias, etc. O importante é não deixar de escrever nem que seja um parágrafo, um verso, uma frase.
  Na medida do possível, tenho seguido este conselho: o de escrever todos os dias. Nem sempre, porém, publico os textos que produzo. Às vezes, eles são apenas desabafos ou coisas de foro íntimo que não dizem respeito a ninguém além de mim mesma.
  Raramente começo um texto diretamente no computador. De um modo geral, inicio no papel (inteiramente cheio de rabiscos) e depois o digito. É no momento de digitar e de editar que decido se devo ou não publicar. Procuro levar aos leitores aqueles que considero os melhores. Mas sei que poderão ou não agradar a todas as pessoas que os lerem. Hoje, consigo compreender que todos que se revelam ao público, seja escritor ou não, estão sujeitos a críticas, a avaliações positivas e negativas. Na medida em que a gente se propõe a publicar livros ou quaisquer outras formas de escrita, tem de ter a consciência de que está exposto e arcar com as consequências que essa exposição possa causar.
  Escrevo minhas verdades (e também muitas de minhas fantasias), mas não posso exigir que as pessoas as aceitem como sendo também as verdades delas. Apenas espero que, de algum modo, eu possa estar divertindo, entretendo, esclarecendo e colaborando para a literatura brasileira mesmo não sendo escritora profissional. Ainda.
Jorgenete Pereira Coelho
Enviado por Jorgenete Pereira Coelho em 10/09/2013
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