Mãe, Professora, Filho e Psicólogo
(passou o dia do Psicólogo e não postei nada; também, ando numa preguiça de fazer inveja. Vai uma pequena cronica de 2003)
Mãe, Professora, Filho e Psicólogo
Esta é uma mistura dos diabos. Costumam se encontrar em situações críticas, geralmente, em virtude das estrepolias do menor de todos.
A mãe não aguenta mais tanta contrariedade: marido desempregado, insone, rejeitando a hora H. Filha adolescente, resmungona, batendo portas, histérica por qualquer coisa, desejosa de um modelito de ocasião. O filho, botocudo, reliando o pai careta. Agora, mais esta, a diretora,em bilhete, manda avisar: vai expulsar o Joãozinho, seu caçulinha, um santo menino.
A professora é Pedagoga, anos de lousa. Tem uma Biz, um esposo infiel, um filho no segundo grau, uma filha namorando às escondidas, uma sogra no quarto dos fundos, outro filho que abandonou a escola, outra filha largada pelo marido, dois netinhos (umas belezuras!), duas contas da CEMIG, três da SAE, um celular que não chama nunca. Este ano, mais esta, ganhou o Joãozinho, ar de coroinha, a puxar todas as tranças, cuspir nos grandões e fugir, bater nos pequeninos, gritar nomes feios, que é até pecado repetir. Corta o coração vê-lo marejar os olhos, quando repreendido na sala!
- Dona Tereza! Sinto muito, não aguento mais o seu filho! Esta depressão... não posso mais...
- Ah! Dona Maria, tenha paciência. Só se eu m.... o que eu faço?
- Já sei! Lembrei. Tem uma solução.Última esperança. Depois... só o Conselho...
- E o que é?
- Leve o Joãozinho ao doutor Psicólogo. Ele dá jeito.
Coitado.
Lá vai o Joãozinho, menino de ouro, penteado, arrastado, ressabiado, matutando: "o que o doutor Psicólogo vai fazer comigo. Agora não escapo. Ele vai me pegar. Vai cortar minha língua. Vai amarrar minha boca. Vai arrancar minhas mãos. Vai quebrar minhas pernas. Vai me capar. Vai me picar em pedacinhos. Vai me por dentro de um saco, vai costurar e vai cozinhar num panelão e jogar para o lobo comer. Vai... "
ui! Um tropicão. Que alívio!
- Toma modos menino!
Chegaram. Que dó. Joãozinho, olhos fechados, punhos cerrados, amarelo que nem cera, suor pela testa, coração de fora, com muito custo abre um olho, um só, é o bastante, para ver do outro lado o doutor Psicólogo: cabelos eriçados, orelhas pontudas, ventas de porco, olhos vermelhos esbugalhados, bocarra aberta, mostrando dentões afiados, babando, uma baba gosmenta, fedida a esgoto. Os braços peludos, roliços, as mãos enormes, dedos gigantes, unhas em garras. O doutor Psicólogo levanta, de tão grande, gigante, esbarra no teto com uma faca enorme, alumiando de tão afiada. Caminha, vai chegando, chegando...
- Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii... ele vai me pegar!
-Acorda menino! È a nossa vez.
João dos Santos Leite
Psicologo - CRP 04-2674