A Grande Pescaria

Inverno em Curitiba. O dia amanheceu ensolarado e quente, contrariando a previsão do tempo de vários institutos, que indicavam chuva. Ninguém esperava este sol logo na manhã de sábado. Todos de bermudão, chinelão e camiseta regata.

Todos estavam entusiasmados, seria a primeira vez que levariam suas esposas para pescar em alto mar.

Chegando em Barra do Sul/SC, apesar do sol, um vento gelado pedia que blusas fossem colocadas.

Pela animação do pessoal, tudo indicava uma pescaria com muitos peixes. Nesta euforia inicial enquanto barco saía do cais, saiu até uma receita de um prato com sardinha: numa panela de pressão, você coloca uma camada de cebola, outra de tomate e uma camada de sardinha frescas e depois novamente uma de cebola, uma de tomate e uma de sardinha. Depois vinagre e azeite. Claro que aí um monte de dicas e sugestões surgiram para o prato, mas não vamos aos detalhes.

Na saída do porto, o vento gelado pedia mais blusas, além de gorros, cachecóis, chapéus e luvas. Faltou blusa.

De saída o grupo perdeu um dos mais experientes pescadores em alto mar, apesar do tratamento de uma semana com "estrugerão", depois vonal e dramin, Volmar não resistiu as ondas do mar e branqueou, amarelou e depois esverdeou. Volmar e sua esposa passaram a pescaria toda na suíte master mega premium do barco do seu Maeco, e de lá só saíram uma ou duas vezes para utilizar o banheiro. Especula-se que o mar não foi o motivo de sua indisposição, mas sim uma pneumonia braba adquirida da Mari na viagem até Barra do Sul.

Na primeira parada do barco para os ávidos pescadores jogarem suas linhas importadas, presas a varas inquebráveis e multicoloridas, a alegria contagiava todos. A competição começaria entre os pescadores: quem vai pegar mais?, quem vai pegar o maior?. Entre as mulheres era: quem vai pegar o mais fofinho? quem vais pegar o mais bonitinho? quem vai pegar o mais coloridinho?

Pescaria é para os fortes.... pescaria é para quem tem paciência.... e tem que ter paciência.... muita paciência.... haja paciência.

Duas horas depois a alegria inicial tinha se transformado num marasmo total. Alguns pescadores já haviam desistido e foram tirar um cochilo nas dependências luxuosas do barco. Nenhum peixe... nenhum peixe... peixe nenhum. Um vento gelado, bem gelado....

O tempo frio e gelado não animava ao consumo de líquidos embriagantes gelados... das poucas unidades levadas, sobrou a maioria. Faltou levar um litro de pinga ou conhaque, mas os homens queriam fazer uma média com as mulheres e levaram pouca cachaça.

Depois de umas três horas de pescaria sem nenhum peixe mudamos para outro pesqueiro, fomos para próximo da ilha dos Remédios. Havia informação que estavam sobrando peixe espada. Na chegada foi difícil encontrar local para o barco estacionar, estava lotado. Todos os barcos de Barra do Sul abarrotados de pescadores estavam se escondendo para não pegar vento atrás desta ilha.

Ficamos algumas horas neste lugar. O vento parou. A expectativa voltou, agora vai!!! O primeiro peixe: um vermelho. Alegria geral da galera. Alguns espadas lentamente e esporadicamente eram pescados por alguns pescadores.

O marasmo e sonolência da pescaria foi quebrada quando obtiveram notícias que na luta um brasileiro perdeu pra um negão de shorts cor de rosa e o que defendia o cinturão, ganhou do chinês. Notícias obtidas por mensagem de uma das esposas dos pescadores. O celular tava com sinal melhor do que na cidade.

Após as várias horas neste marasmo, o barco se mandou deste pesqueiro e foi para outro local. Madrugada fria, 2:11 e o vento voltou com tudo. O vento sul. Aquele que os barqueiros falam que quando aparece o peixe desaparece. A maioria dos pescadores lotaram as suítes do barco para dormir.

Alguns bravos e valentes, acho que teimosos, ou seriam aventureiros? continuaram acordados e fiscalizavam os anzóis. Na rádio Guararema FM tocavam lindas melodias românticas do Zezé di camargo e Luciano, Luan Santana, Bruno e Marrone, Leonardo, Victor e Leo, Paula Fernandes....

Peixe nenhum apareceu. 4:17 da manhã a chuva tá chegando e três aventureiros se mantinham firmes.

Greboge, para passar o tempo, ficou duas horas, trinta e sete minutos e quinze segundos tentando "desembolar" as linhas de três anzóis que se embolaram, enquanto seus donos dormiam. Uma boa parte das linhas continuaram emboladas, até que um dos donos aparecer e cortar a linha com os dentes, para desespero do Greboge, que viu seu trabalho todo jogado fora.

Outro pescador, ficou olhando para as luzes ao longe das cidades litoranêas e ficou se perguntando porque uma luz verde piscava duas vezes e a vermelha uma...com intervalo de um segundo para acender e apagar. Depois de uns quarenta e oito minutos só a vermelha piscava com intervalo de dois segundos.

Outro ficou encolhido olhando os anzóis.

O dia clareando, e a hora mais esperada da pescaria chegou: a hora do rei começava. Uma hora com as melodias do rei Roberto Carlos, para alegria dos fãs na Guararema FM.

Resultado final da pescaria: Bêbados: nenhum. Peixes: do total dos peixes pescados, cada participante teve direito a levar para casa um único peixe. Claro, que a peixaria Classe A agradeceu, pois os pescadores compraram vários kilos de peixes para alimentar as diversas famílias envolvidas.

A próxima pescaria estará sendo agendada numa praia para pesca de arremesso. Ou num "tancão" bem grandão que chamam de represa, ou num rio que de para pescar do barranco e pegar lambari.

Mas primeiramente vamos fazer um levantamento e estudo técnico aprofundado de quem é o pescador pé frio. E este dito pescador, por um erro qualquer, será voluntariamente esquecido na hora de enviar o convite.

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Juvenal Tiodoro
Enviado por Juvenal Tiodoro em 09/09/2013
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