Perdi Tudo!

Quando eu era pequenino costumava ouvir dos meus pais que este país era o grande país das esperanças. Que a natureza havia lhe presenciado com lindas e verdejantes matas e que do seu subsolo sairiam as maiores fortunas em ouro e prata e que além de tudo isso, o petróleo ainda seria a nossa mais importante fonte de riquezas. O tempo passou e ainda vivo no mesmo país dos meus pais, mas que, infelizmente, não é o meu país!

Eu ia à escola primária, recebia gratuitamente a merenda escolar que em sua maioria, eu lia em suas embalagens, viam como ajuda doa Estados Unidos da América. Levávamos nossos cadernos nas mãos. Naquele tempo não havia as caras mochilas de hoje. Em dia de provas só levávamos uma ou duas folhas de papel pautado e o lápis preto. Canetas nem pensar. Era coisa de gente grande.

Antes de entrarmos em sala de aula éramos enfileirados após recebermos apenas um chamamento da Diretora da escola e pronto: todos estavam preparados para cantar os Hinos Estadual e Nacional. Depois de tudo isso é que entrávamos em sala de aula, em ordem e para a mesma carteira de todos os dias. O silêncio era absoluto.

Cresci nesse cotidiano até prestar o antigo exame admissional ao ginásio, onde ficaríamos por quatro anos e depois o duríssimo científico. O vestibular era o monstro afunilado que teríamos que passar por ele se quiséssemos entrar numa universidade e garantir o futuro.

Na Universidade jamais vi ou ouvi dizer que qualquer colega meu pinchasse as paredes. Poderia até desrespeitar um professor, mas seria expulso da faculdade e marcado pelo resto de sua vida universitária. Era mesmo um tempo muito bom. Saíamos pelas ruas, nas madrugadas, sem o menor risco de sermos assaltados. Nossas famílias eram reconhecidamente citadas nas situações mais difíceis. Os mestres eram senhores da razão e não poderiam jamais ser mal tratados. Não existia os famosos Conselhos Tutelares, mas aluno desgovernado ia à palmatória ou levava um bom puxão de orelhas. Os pais não iam à escola reclamar de maus tratos aos seus filhos.

Depois de formado, casado e vemdo os filhos crescerem, aquele país das esperanças de quem meus pais me falavam começou a mudar drasticamente. Apareceram as gangues de sequestradores, os estupradores, os alunos violentos que levam armas para as escolas dentro de suas mochilas e o que é pior, começamos a ver os professores apanhando à luz do dia por alunos que se esqueceram de ser chamados de marginais. Puseram-lhes um apelido bondoso de sociopatas. Que pena! O país da esperança estava morrendo!

Hoje chegamos a um caos generalizado. Possuímos um Congresso Nacional apodrecido onde até presidiário pode legislar. Um Judiciário que põe seus discursos inflamados na televisão para dar ibope. Uma Presidente da República que apenas produz o que possa dar-lhe votos e garantir com isso sua reeleição. Há Partidos políticos que negociam até a honra de seus participantes e uma quadrilha (Os mensalheiros) que, apesar de condenada, seus membros ficam comendo caviar e tomando champanhes, zombando com isso da sociedade..

O que nos resta ver nas desesperanças deste país? Acho que absolutamente mais nada. Se voltarmos ao Tribalismo perderemos todo o progresso científico e tecnológico que desenvolvemos ao longo desses dois últimos séculos e não poderíamos tratar as novas doenças que o desenvolvimento criou nem tampouco alimentar duzentos milhões de habitantes.

E hoje, passando de meio século de existência, olho para trás e sinto saudades. Descortino a memória e enxergo as coisas que não voltam mais e não consigo encontrar qualquer esperança em um mundo novo, cheio de amor e de paz, onde o respeito seja a ferramenta cotidiânica a ser usada. Não confio nos homens que transitam nas ruas nem nos políticos que me governam, e um pouco, mas apenas um pouco, na grande maioria de nossas instituições, nossos Poderes Constituídos. Minhas desesperanças tornaram-se apocalípticas e a minha única esperança chama-se sobrevivência.

Meus velhos e saudosos pais já não mais os tenho comigo. Ouso continuar vivendo, agora confrontado enquanto médico pelo próprio governo do país no qual até pouco tempo alimentava esperanças em dias melhores. Perdi Tudo! Mas não perdi a fé. Continuo a acreditar que há uma salvação e ela está em Cristo. Pedi-Lo-ia: Venha logo, Meu adorado irmão, pois o mundo já não presta para se viver e o meu país virou um montão de miséria, crimes, violência e desamor. Se porventura o céu não for muito longe daqui, acho que posso submeter-me a viagem sem volta e traduzir minhas desesperanças em uma linguagem nova onde ela possa significar o amor à vida e a veneração pelas amizades.