Aprendendo a Crescer
A criança cresce sadia porque conquista sempre maior autonomia.Caminha sozinha,come sozinha,pode abandonar temporariamente a mãe para explorar o ambiente a sua volta e relacionar-se com os outros.Passando assim,da simbiose total de quando feto e vivia no corpo materno à independência externa.Quando esse processo acontece naturalmente e de modo saudável ocorre a separação psicológica.
Essa última passagem é muito delicada,porém,não menos importante dos demais estágios do desenvolvimento infantil enquanto marca a passagem do ‘filhote’ de homem a homem propriamente dito que consegue caminhar com as próprias pernas não apenas a nível físico mas principalmente a nível mental.
Os pais representam um referimento fundamental.São um modelo de identificação primordial.Através dos seus olhos a criança enxerga a si mesma e também o mundo.Construindo-se gradualmente uma identidade diversa de quando era pequena e dos adultos de referência,que de qualquer maneira fazem parte do seu próprio ser.É uma questão de tudo muito pessoal,isto é, precisa-se desde cedo ir assumindo as próprias responsabilidades e,os pais podem e devem facilitar essa transformação consentindo espaços mais amplos de autonomia,não somente prática(liberdade de movimento e necessidade de independência,mas sobretudo respeitando as escolhas dos filhos que nem sempre são e vão ser as suas).Mas,que representam para eles fonte de aprendizagem e por isso mesmo é importante mostrar-se como pai ou mãe confiante e tentar evitar a oposição radical.
Nossas funções maternas e paternas têm notoriamente mudado muito ao longo desses anos,tendendo a continuar mudando e se tornando cada vez mais voltadas ao nível de interlocução.Significa que temos que renunciar ao suposto saber e poder sobre os filhos,buscando controlar nossas ansiedades acerca das incógnitas do mundo verso o qual nossos filhos vão ao encontro,sem tão pouco descarregá-las sobre eles.Uma confiança de base recíproca permitirá ao jovem(às vezes me deparo chamando-os assim...) de usufruir das experiências de vida dos pais sem ter que renunciar às próprias experiências no mundo.
É fácil intuir quantos obstáculos e desafios podem ocorrer nesse longo e talvez fadigoso percurso.Autores como Freud e Erikson construíram valiosas interpretações sobre o desenvolvimento ao longo da vida.Desenvolvimento da personalidade que passa através de uma série de etapas. Em cada uma delas a criança deve lidar com certos conflitos estimulados em larga misura de mudanças biológicas.
A teoria de Erikson propõe um esquema evolutivo que reconhece a sequência das fases psicossexuais de Freud e diz que cada uma delas por sua vez provoca uma crise psicossocial,com consequências positivas e negativas.Cada fase se superada com sucesso representa um passo adiante verso a maturidade psicológica,mas se a crise não vem resolvida de modo adequado ou é vivída de modo muito conflitual pode deixar sequelas neuróticas.Essas fases são obrigatórias para o desenvolvimento humano,sendo uma escolha enfrentá-las de modo profundo e sincero.
Pessoalmente penso que o contexto social em que estamos inseridos nem sempre nos ajuda a nos conhecer melhor nem muito menos em enfrentar esses temas.Há uma constante e crescente pressão social que porta a uma competitividade quase sempre conflitual entre a grande maioria das pessoas frequentemente prisioneiras de uma visão estereotipada do mundo exterior,ou seja,da aparência-portadora mentirosa,enganosa da verdadeira realidade,que cria a ilusão de encher o vazio existencial com bens de consumo,com pílulas que não fazem nem sentir nem pensar,com a exibição de estilos de vida fundados unicamente na vaidade.
Ser autêntico,congruente entre o pensar e o agir,respeitando a própria individualidade(não confundindo com individualismo) e a do outro está cada vez mais difícil em nossos tempos.Entretanto,é preciso compreender e aceitar que na vida há quem concorde e quem discorde do nosso modo de pensar.Ainda bem que é assim senão que mundo seria se todos fossem e agissem da mesma maneira?
Geralmente nos aproximamos mais daqueles por quem temos empatia,porém podemos aprender muito também com aqueles que pensam diversamente da gente.Através desta dialética é possível criamos juntos novas formas de pensar.
É necessário redescobrirmos o caminho que nos leve à interiorização para podermos encontrar a autêntica satisfação de cada ser humano adulto ou criança a fim de podermos compreender e suportar os normais momentos de dificuldade para que estas não se transformem em manifestações clínicas mais tarde.