“Meu Deus, faça alguma coisa. Mostre-me que é real. Somente assim, acreditar-Lhe-ei por todos os milagres, até o último de meus dias.” Assim, suplicava um sobrevivente, desesperado. Ele desejava apenas viver. Pobre coitado. Perdeu-se de suas crenças, perdeu-se de tudo. Sobrou-lhe uma essência (a mesma que há em mim, que há em você).
Para que e por que lutamos? Por alguns dias a mais, por uns suspiros, pelo calor que imaginamos sentir, neste mundo?
Não sei.
Talvez eu venha a sucumbir, também, em meu próprio momento decisivo, na ânsia de entender. É certo que nenhum domínio me caberá. Sou um reles mortal. Meu corpo humano é máquina falível, apesar de programada para a vida. E o rio das minhas sinas, de toda sorte, curvado, num curso imperfeito, empurrará suas águas, erodindo todos os chãos que me acolhem, sem parar de seguir. Sou presença fincada, mas predestinada a passar. Definitivamente, sou passageiro.
Sim, eu luto pela vida. Corro, corro, sem deixar-me em nenhum lugar. Corro, corro, para o meu destino. Ao meu largo, pululam tantos eus acompanhantes, seres menos nobres. Eles também estão inspirados. Rosnam, agarram, abocanham. Afinal, movem-se com a mesma sanha dos que matam, para sobreviver.
(Crônica inspirada no Filme "A Perseguição", 2011)