Apenas uma crônica
Eu gosto mesmo é das possibilidades, sou deslumbrada pela vida e por tudo o que acontece em torno de mim. Seus altos e baixos, invernos e verões, escuros e clarões, me lanço dos infernos astrais aos céus da ilusão.
O meu fascínio é por gente que se arrisca, que ama, ri, sofre, canta e dança. Gente que não se acostuma e se lança mesmo sem âncoras. Gente olho no olho, pele e emoções; além da superfície, além da aparência.
Eu gosto das probabilidades que há nas portas entreabertas, das frestas e fendas que comportam a infinitude, das curvas ariscas, sem mornos, sem medidas, sem encostas e raízes.
Apraz-me a magia do amanhecer e da saudade do fim da tarde. Encanta-me a lua e seus fios de prata, as cores multifacetadas no cais e a lira na hora da Ave-Maria. Gosto dos colares e rendas, dos terços e das oferendas, da oração e sua magnitude, dos rosários e compassos do meu coração.
Viver sem tendas ou assentos marcados, sem cruzes fincadas, sem absurdos e migalhas. Cobiço aqueles bordados à mão que rendam as páginas da nossa história, desenhos grafados com desiguais pontos: cheios, caseados, cravejados, linhas pontilhadas em cores ou preto e branco, representações matizadas.
Gosto da sonoridade das palavras, dos vocábulos intermediários e do poema das entrelinhas. É belo sentir o poder do silêncio e a leveza do perdão. Distrai as más intenções.
Eu gosto mesmo é de sentir na veia o redemoinho da vida e o alvoroço do dia-a-dia, às vezes da janela, outras, fantasia... delicadezas e escolhas.
A vida é um convite, permitir-se, definir-se, não se deixar envelhecer e nem enterrar os sonhos. Esplêndida ou feia assim é a vida, com grandes estreias e muitos desafios, com plateias e figurantes, com flores e cardos, bailados e cantatas noturnas, palavras benditas outras nem tanto, caminhos e atalhos, multidão, solidão, comunhão. Às vezes é preciso desfazer-se das armaduras e separar coisas amiúdes que nos subtraem ou maximizam. Às vezes são precisos desafios para ser feliz.
Gosto de ser feliz ainda que em pequenas ou imensas doses_ sem culpas e sem analistas para desatar os meus nós.