Um circo chamado Brasil

Confesso que andava meio triste, muito indignado com as mazelas do meu país. Fome, violência, escândalos, roubalheira, impunidade, hipocrisia, engarrafamento, poluição. Enfim, um poço sem fundo, um poço sem fim. Todavia, depois da terrível e animalesca cena de barbárie que fizeram com o menino João Hélio no Rio de Janeiro, onde bandidos o arrastaram por quilômetros, até dilacerarem todo seu corpo, eu vinha tendo uma ponta de esperança, pois vi pessoas indo as ruas clamarem por justiça, pedindo segurança, invocando a ordem. Puxa! Isso me comoveu, perguntei comigo mesmo: agora vai! Ninguém vai poder ficar parado diante de tal situação! É impossível alguém ficar inerte! É inconcebível as autoridades se esquivarem! Enfim, um país mobilizado como outrora, como na ditadura, buscando liberdade e vida. Alguns políticos ensaiando retóricas e criando projetos. Talvez oportunos? Não sei? Mas ensaiando, todos em busca de um país digno, um nação de cidadania. Tudo perfeito, como em uma cena de cinema. Porém, alguns dias se passaram, a poeira se fez baixar, outras barbáries surgiram, outras balas perdidas fizeram novas vítimas, outros assaltos e genocídios aconteceram, aeroportos travados e o caos como sempre em nossas vidas retoma sua triste sina. E aqueles políticos cuja minha fé depositara, agora os vejo na televisão discutindo sobre o uso de chapéu no congresso. Pasmem os senhores! Estão discutindo se parlamentar pode ou não usar chapéu. E a justiça por João Hélio? E a bravata de poucos dias atrás? E a justiça? A dignidade clamada? E Os projetos de segurança? É senhores...e agora? O que eu vou dizer para meu filho? O que eu vou dizer para os meus sonhos? Como acreditar no futuro? Como acreditar nesse país? Confesso, me sinto parte integrante de um grande circo; mais precisamente dentro do globo da morte; onde tudo se pode, tudo se faz, onde a vida não vale nada, onde a tragédia virou banalidade, onde manchete de jornal banhada em sangue, é futil e corriqueira...nem chama mais a atenção. E Nesse circo chamado Brasil, se tem de tudo, a única diferença em relação a outros, é que nesse, os palhaços somos nós...pobres brasileiros.

Nelson Rodrigues de Barros
Enviado por Nelson Rodrigues de Barros em 12/04/2007
Reeditado em 12/04/2007
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