Aluno que bate em professor

Antes de dizer algumas palavras sobre este tema, fiquei procurando espaços por onde começar. Que difícil encontrar esses espaços. Mas entendo que devo manifestar-me, até pelo fato de ser professora, educadora. E filha de professora, sobrinha de professora, além de tantas outras pessoas da família na mesma profissão. Pronto, encontrei o primeiro espaço para a abordagem do tema, espero encontrar mais outros no decorrer deste texto.

O fato de ser professora me confere amplos direitos de me pronunciar sobre alunos que batem em professores. Além dos direitos, levo em conta o dever de fazer isto, falar de alunos que batem em professores. A repetição é enfática, proposital.

Para ser justa comigo e com todos os colegas, devo dizer que estou no lucro, pois 99,9% de minhas histórias teriam somente a ver com a boa convivência e muita alegria ao lado de meus alunos, tanto do Ensino Médio quanto do Superior. Acontece, porém, que essa vantagem é também uma sorte tendo em vista as brutais modificações pelas quais passa a sociedade.

A mudança de hábitos, de costumes e de valores atinge duramente aos que ainda estão aqui, vivendo esses momentos de revoluções de toda ordem. Foi tudo muito rápido, penso até que se aproveitaram de quando estávamos dormindo e ligaram um botão maligno. Dispararam o tal botão e, de repente, tudo aquilo que aprendemos durante a infância e a adolescência se tornou algo ridículo.

O que seria o ridículo? Pois digo agora mesmo. Ridículo se tornou: respeitar pais, avós, pessoas de idade, cabelos brancos, senhoras, mulheres em geral, não se envolver em conversas de adultos, oferecer lugares em coletivos, levantar-se ao ver que o professor entrou na sala de aula. Ridículo também passou a ser conversar com pessoas idosas, respeitar-lhes a vida de experiências. A relação do que passou a ser ridículo tornaria este parágrafo quilométrico e ridículo.

Agora seria a hora de perguntar quem fez isto, quem contribuiu para que tal acontecesse, quem aceitou, quem assinou embaixo, quem aprovou e elogiou, quem isto e quem aquilo. Ora, há uma sede de atribuir nomes aos bois, há um dedo apontando culpados, há uma multidão acreditando não haver culpados e outra multidão culpando tantos e quantos.

Os culpados, segundo alguns, seriam, principalmente, a TV (o rádio nunca foi muito acusado) e a Internet (esta tem sido queimada na fogueira da ignorância). Mas, se algo acontece há sempre um responsável. Ou um culpado. Prefiro não apontar réus, mas agentes. O mundo sofre a ação dos sujeitos, é óbvio. Se um prédio é construído, lá está o produto de uma ação. Se um avião levanta voo, é visível o produto de uma ação. E, assim por diante.

Quem agiu de tal forma na sociedade para que determinados fatos aconteçam? Provavelmente a TV e a Internet tenham colaborado para a construção de tal realidade. Apontam a política. Claro que a política é agente principal de tudo o que ocorre em nossas vidas. Entretanto, quando leio manifestações de indivíduos que responsabilizam políticos e partidos, sinto um desconforto. Esse estado d’alma vem da reflexão que me mostra sermos os agentes da existência de partidos e da eleição de políticos descarados.

É bom notar que há uma transição, há sempre faixas transitórias em tudo na vida. Foi nessa faixa de transição que se formou um bloco intermediário, uma geração do meio. Essa geração do meio é agente poderosa da mudança para pior. Os mais velhos continuam reclamando e tentando de alguma maneira mostrar a diferença da época presente no que diz respeito ao período em que estavam na exuberância da juventude. Os do meio forçam violentamente a barra dos mais velhos na tentativa de eliminar a cultura e os costumes que teimam em propalar e elogiar. A geração de ponta, a novinha, está espremida entre tais forças. Como a geração mediana ganha em força física, termina vencendo pelo cansaço e ensinando aos filhos aquilo que considera ridículo. Por exemplo, professor é ridículo e pode bater nele à vontade.

Tive a infelicidade de, nas páginas do Facebook, assistir a um vídeo onde um menor (quase ficando rapaz) desferiu dois murros na cabeça de uma professora de 71 anos de idade. E, quanto aos agentes que construíram, especificamente, uma realidade deste porte, ouso afirmar que fazem parte da geração mediana. E posso afirmar com segurança porque pude ver e ouvir pais incentivando filhos a desrespeitarem os professores. Esses pais ensinam aos filhos que professores são figuras deploráveis, que percebem baixos salários, além de pronunciarem a miserável frase: não queira ser professor. E então, para ser seja o que for, cabe lembrar, é desse ridicularizado profissional que todos necessitam.

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link para o vídeo:

https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=U4VTmeeXm6Q#t=29&hd=1