Músicas sempre atuais
Ontem, ao assistir a Somos tão jovens, que conta os primeiros passos da carreira musical do nosso inesquecível Renato Russo, dei-me conta de que suas músicas serão sempre atuais. Aliás, para os tempos de hoje, a clássica "Que país é esse" seria apropriadíssima. Ao terminar de ver o filme, pensei que poderiamos cantá-la depois que se decidiu pela não cassação de Natan Donadon. O que podemos realmente pensar ao ver que decidem manter o mandato de alguém notoriamente inidôneo para uma função tão relevante como a de deputado? Não é mesmo para nós nos perguntarmos que pais é esse em que vivemos, onde um governo exerce contra nós uma violência silenciosa e lenta através da corrupção e do descaso, nada de concreto se faz para combater as drogas, a violência e a criminalidade e a saúde e a educação são deixadas de lado como coisas sem importância?
No filme, vemos Renato Russo jovem, questionando a realidade do mundo e o sistema absurdo em que os brasileiros vivem e dizemos: em que, realmente, o Brasil atual difere daquele que o Renato de 20 anos, idealista, atormentado e cheio de inseguranças questionava? Em nada, realmente. Ele tentou usar sua música para fazer as pessoas acordarem, verem que viviam numa realidade podre e que não podiam continuar adormecidas. Não foi esse o mesmo espírito que levou tanta gente a protestar pelas ruas do Brasil?
Numa cena, que achei tocante, ele discute com os pais sobre não fazerem nada com tanta coisa errada no Brasil e o pai dele responde: "Que posso fazer? Sou apenas um economista." Este é um grande problema nosso.Somos condicionados a achar que não há nada que possamos fazer, que devemos aceitar as coisas como elas estão, porque tudo é uma realidade imutável, como se a realidade não estivesse sempre mudando.
Renato quis ir além da sua época, onde os valores predominantes eram os de que as pessoas deviam apenas se preocupar em estudar para arrumar emprego, ter um carro e dinheiro no banco. Quis ensinar aos jovens e tantos mais que a vida devia ser mais do que cuidar dos próprios interesses, mas que se devia entender os problemas da realidade, combater o que estava errado e não se render ao conformismo. Em síntese, ele dizia que se devia gritar, mas não apenas gritar. Devia-se ousar, ter a coragem de agir.
Portanto, vemos que Renato Russo será sempre um cantor atual,que compôs letras e criou músicas que sabiam mostrar o vigor e a inquietação da juventude, além de respeitar a inteligência dos ouvintes.