SIMPLESMENTE LUIZA.

Verde musgo era a cor da caixinha. "Nativa Spa" estava na inscrição em bem desenhadas letras argênteas. Tudo para convencer que o produto, um sabonete refrescante de ervas, iria melhorar o aspecto da minha pele. Foi a minha irmã que me presenteara com dois. Eu a dissera que com a chegada próxima do frio, acordaria com a cara mais deslavada ainda. O presentinho veio com uma promessa e um fraternal elogio: "você ficará mais bonitão ainda", falou a minha irmã. Pensei: duvide-ó-dó! Um presente é sempre um presente e nem sempre é um milagre. Mas aquela caixinha... Nunca vira uma embalagem com design tão sedutor, parecia ter sido concebida num momento de singular inspiração. Achei que poderia ser uma criação da turma bacana da "Naipe design".

(...) Acordei com aquela antiga cara de cão sem dono, ainda com um bocado de sono e nem tinha passado a noite na "gandaia". Cambaleante, vendo entreolho, fui ao toalete me refazer para mais uma jornada, feita de mil telefonemas, mil e uma solicitações, e-mails e saco-cheio. Abri a penteadeira e a caixinha verde que já houvera me esquecido, desembota a minha mente, não sei o porquê, para uma nova perspectiva do dia. Ensabôo bem o rosto, enxáguo e observo desconfiado que a cara em nada mudara, precisava de um banho na alma.

Já ao café, chega minha irmã com Luiza e pergunta se gostei do sabonete, eu digo que muito, que depois do uso já me sentia o "Jason", só faltava a serra elétrica. Minha irmã vai-se, Luiza fica. Religiosamente, por volta das oito e meia, Luiza sente sono - ela acorda muito cedo - mas só pega no sono depois que arranco com o carro, com minhas caras e bocas e meus barulhos. Antes que isso aconteça, ela olha-me atentamente, perscruta o que faço, vê com interesse eu levar a xícara à boca, parece achar estranho eu mastigar o pão. Faço um “biquinho” de beijo pra ela que me retribui com sorrisinho. Olho no olho castanho dela e ela olha sem piscar pro meu. Parece que sou o único, naquele instante, no mundo dela. Só há uma coisa que sei que quebrará o embevecimento de Luiza por mim: O gato. Se o gato aparecer eu atiro o pau no gato-to-tô e até na Dona Chica, se ela bestar. Malvado será o gato - eu vi Luiza primeiro! Não vou perder pra gato! Penso em ler o jornal. Não, quero ver Luiza. Talvez lerei a coluna do Ancelmo Gois. Não, agora não, quero ver Luiza. Luiza cochila no colo da avó e dorme, e uma ternura me aproxima da felicidade. E já se distancia as oito da manhã. Luiza é o melhor presente que minha irmã nos deu (ou melhor foi Deus) e melhora a cara e a alma da gente.

Pego a estrada a caminho do trabalho. Sintonizo o rádio numa estação, buscando uma canção e, por incrível que pareça, toca Milionário e José Rico " Ah minha cara, eu mudei minha cara, mas por dentro eu não mudo (...) o seu amor ainda é tudo, tudo... Deixo estar, tocasse o que tocasse, Coltrane ou Miller, bossa nova, "rock in rool" ou sertanejo, me sentia um Joel rico, um Joel milionário e um tanto da roça e que no próximo final de semana não iria pra Vitória, iria pra Marilândia. "Êita nóis!"

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Joel Rogerio
Enviado por Joel Rogerio em 12/04/2007
Reeditado em 12/04/2007
Código do texto: T447149