Setenta e quatro anos

As palavras que se seguem foram geradas por um inconformismo sobre o ocorrido no dia doze de janeiro de 2007.

Setenta e quatro anos

Setenta e quatro anos... Teria sido comum se a morte viesse (como veio) de supetão, mas não foi assim! Foi de outra forma, a morte veio quando não era esperada (pelo menos como veio), a morte não era esperada dessa forma, mas a indiferença e a irresponsabilidade fizeram com que ela viesse.

A política (se existe) do Brasil o fez, a morte aos setenta e quatro anos, a morte que não foi de velhice, nem de doença e muito menos de amor (antes o fosse) como escrevem, dizem e até cantam alguns poetas.

Setenta e quatro acabados sabem lá em quanto tempo, talvez segundos, ou horas agonizantes, por culpa minha, ou deles, se acabaram, mas o peso cai sobre mim, o peso de setenta e quatro anos sobre mim, setenta e quatro anos, pesam muito, muitíssimo, porém não mais que todo o concreto (barato talvez) que caiu sobre a cabeça de setenta e quatro anos, os quais tinham direito a lugares especiais no transporte coletivo, filas menores nos bancos e etc..., mas não tiveram o direito de viver!

Em setenta e quatro anos há muitas histórias a serem contadas aos netos, diante do bolo com suco de laranja natural nos fins das tarde de verão, e agora não existe mais a fala, a respiração (que foi sufocada) ou mesmo os gestos, agora os gestos de setenta e quatro anos estão mortos...

E o peso, o peso de setenta e quatro anos que não esperavam a morte, cai sobre minha cabeça, mas não tira sequer o sono da política, com seu bolso cheio de corrupção e dinheiro, ganância e fartura, orgulho e desumanidade, quem nos dera ao menos a inércia a política perdesse, ao invés de ficar recitando odes à democracia inexistente do nosso país!

Ouça bem senhora política: foram setenta e quatro anos, mortos e sufocados. Ouça bem senhora política: De que adianta dar comida, filas menores em bancos e lugares privilegiados nos coletivos, se não há vida para desfrutar?