VIDA DE GADO

Eu moro bem próximo a um ponto de ônibus, num bairro de alto IDH, segundo as pesquisas. As pessoas que vejo passar embaixo da minha janela e as que já estão no ponto vão para sua lida diária com a fisionomia relativamente tranquila; provêm de um lar onde certamente há uma mesa de café posta para que tomem antes de sair.

Noutro dia, fui a um bairro mais comercial, distante daqui dez minutos. Durante o pequeno trajeto constatei, mais uma vez, o péssimo estado em que se encontram as vias da cidade: meu carro pulou tanto que fiquei com medo de que ele deixasse alguma peça pelo caminho. E as ciclovias estão por toda parte, (mal) pintadas, estreitando ainda mais as já congestionadas ruas, sem um ciclista sequer transitando para justificar tal gasto... Nesse ponto, devo dizer que rua mal conservada existe por toda cidade, é uma situação absolutamente democrática, dá voz a ricos, pobres ou remediados, como diria minha mãe.

Estacionei o carro para esperar uma amiga que ia fazer compras. Enquanto esperava, pude observar as pessoas que eram recolhidas ou despejadas pelos ônibus... quanta diferença daquelas que vejo no meu bairro... Os semblantes carregados, testas franzidas, cabeça baixa e preocupações que bailam nos olhos. Infelizmente, essa é a tônica no nosso Brasil que comemora nesta semana mais um ano de sua independência. Não quero dizer com isso que os mais favorecidos pela vida não tenham preocupações, mas bem alimentados e morando bem, os problemas são melhor suportados...

Naquela hora, só me veio à cabeça a música do Zé Ramalho: ê, ô, ô, vida de gado... povo marcado é povo feliz...

RJ, 01/09/13

(não aceito duetos, por favor)