Rua do Hospício

Nos lugares mais inusitados, por vezes encontramos belas pessoas. Assim conteceu comigo dia desses.

Lá estava eu, toda faceira, feliz, de bem com a vida e tentando comprar um objeto pessoal numa rua de intenso movimento aqui no Recife.

A rua, curiosamente chama-se Rua do Hospício (ótima para uma 'maluca' como eu) e fica no centro, no coração da Veneza brasileira.

Assobiando uma melodia gospel, com uma garrafinha d'água na mão, lá estava eu, procurando o objeto de desejo, quando me deparo com um vendedor ambulante que curiosamente me aborda para que eu desse uma olhadinha em seus materiais, almejando ele uma possível venda.

Até aí, tudo bem. Fui elegante ao tratar com ele, mas disse não me interessar por seus produtos e desejei boa sorte nas suas vendas.

Do nada, ele me diz: A senhora aceita?

- Ah, Ããã, aceita o que, moço? Respondi.

- Aceita este pedacinho de papel?

- Lógico. Mas o que diz este papel, cidadão? Falei.

- Leia, senhora. Acho que vai gostar.

Cega que sou (só leio de 'lupa'), tratei de colocar as lentes no meio da rua, afinal fiquei curiosa e ávida por ler o que havia escrito naquele papelzinho que o ambulante fez questão que eu, justo eu, lesse.

Estava escrito assim:

A história do leão e da gazela.

Conta-se que o leão é o animal mais feroz da selva e que todos os dias, ele acorda e vai correndo em busca de seu alimento.

Na mesma selva, há diversas gazelas, que têm como objetivo diário, acordarem e correrem o mais rápido possível no sentido de livrar-se dos ataques famintos dos leões.

Finalizando, o papelzinho recomendava: Não importa se você é um leão ou uma gazela. Todos os dias, acorde e corra!

Aí a história mudou de cenário, vez que preliminarmente eu julgara ter-me deparado com um vendedor chato, insistente e esquisito, constatei que encontrara pelas ruas do Recife um filósofo, um pensador, um poeta.

Mudei o conceito, amigos. Bati o maior papo com aquele ambulante, falei que amei de coração a mensagem edificante que ele compartilhou comigo. Conversamos, em pé, numa tarde ensolarada e aquele encontro ficou marcado nas crônicas da minha vida.

Cá com meus botões, filosofei: - Olha o que eu encontrei justamente na Rua do Hospício!

Que loucura maravilhosa!

Contos e Encantos
Enviado por Contos e Encantos em 06/09/2013
Código do texto: T4469605
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