Hienas
O trem está apertado, e as pessoas riem.
O ônibus está lotado, e as pessoas riem.
Empurrando, empurrado, encurralados
E as pessoas? Elas riem.
Acham graça da desgraça
Da miséria, e do descenso.
Da nossa humilhação diária.
Aplausos.
O motorista está estressado, as pessoas riem.
Avança sobre a faixa, as pessoas riem.
Passam por cima dos nossos direitos, e as pessoas? Estão sorrindo.
Estão sorrindo pela buzina, e pelo abuso.
Pelo desuso da tolerância, e do respeito.
Sorriem pela nossa falta de atenção.
Sorriem pela pregação fora de hora.
Acham graça da violação dos meus direitos
E nem tanto quando o direito é de si próprio, quando dói na própria ferida.
Mas estão sorrindo.
Hienas, somos hienas, não somos humanos.
Ocupamos o cimeiro da cadeia alimentar.
Vivemos na carniça.
E estamos rindo.
Não somos parte dos macacos.
Somos Hyaenidae, e fazemos parte dessa família
Alimentando nossos filhos, com as sobras das sobras.
Charlene Angelim