Hienas

O trem está apertado, e as pessoas riem.

O ônibus está lotado, e as pessoas riem.

Empurrando, empurrado, encurralados

E as pessoas? Elas riem.

Acham graça da desgraça

Da miséria, e do descenso.

Da nossa humilhação diária.

Aplausos.

O motorista está estressado, as pessoas riem.

Avança sobre a faixa, as pessoas riem.

Passam por cima dos nossos direitos, e as pessoas? Estão sorrindo.

Estão sorrindo pela buzina, e pelo abuso.

Pelo desuso da tolerância, e do respeito.

Sorriem pela nossa falta de atenção.

Sorriem pela pregação fora de hora.

Acham graça da violação dos meus direitos

E nem tanto quando o direito é de si próprio, quando dói na própria ferida.

Mas estão sorrindo.

Hienas, somos hienas, não somos humanos.

Ocupamos o cimeiro da cadeia alimentar.

Vivemos na carniça.

E estamos rindo.

Não somos parte dos macacos.

Somos Hyaenidae, e fazemos parte dessa família

Alimentando nossos filhos, com as sobras das sobras.

Charlene Angelim

Charlene Angelim
Enviado por Charlene Angelim em 06/09/2013
Código do texto: T4469568
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