Ximbica

 
O brasiliense se divide em cabeça, tronco... e rodas.
(sabedoria popular candanga)

 
Bateram no meu carro. E, o que é pior, o barbeiro escafedeu-se sem pagar o conserto. Levei meu bonitão pra concessionária pra desfazer o estrago à custa da seguradora que ajudo a sustentar há anos, contando, não apenas com o suporte financeiro em caso de roubo ou dano, mas também com a tal franquia reduzida (pela qual pago mais caro) e o imprescindível carro reserva.
Acontece, e isso está lá em letras diminutas em algum lugar da apólice, que, para fazer jus aos dois últimos itens, eu precisaria realizar o reparo numa oficina credenciada. Pergunta se a concessionária é?
Ou seja, ou levo o meu carrinho quase zero para reparo na credenciada oficina do Ximbica, ou pago franquia cheia e fico a pé enquanto ele vai pra autorizada que, ironicamente, não é credenciada. Ora bolas! Pro Ximbica, nem precisava de seguro. Pelas mãos cheias de graxa dele passaram todos os calhambeques que tive, antes de eu resolver trocar a quase mesada dele, por 36 prestações de leasing, além das tais revisões programadas. Negocião!
Porém, estava decidida a não mais aturar os velhos pôsteres de mulher pelada nas paredes do Ximbica e fui de descredenciada mesmo.
Nos dois primeiros dias, até que não foi difícil. Meu irmão viajando, fiquei com o possante dele. Depois, voltei a ficar sem rodas e a coisa desandou. Como a gente é dependente desses bebedores de gasolina, meu Deus! Tá! A culpa é da falta de transporte público de qualidade, mas… Parece que tudo acontece - e bem longe de onde a gente está - quando a gente está sem carro. Pior que isso, só ficar sem celular!
Daí, que resolvi apelar pro aluguel. Preciso continuar funcionando e minha locomoção é fundamental pra isso.
Considerando as exigências da lei 8666, não há melhor referência para uma empresa do que ser contratada pelo Governo, certo? Peguei a listinha das locadoras que atendem ao Congresso e fui atrás. Na primeira, ninguém atendeu. Na segunda, caí numa padaria. Estranho, mas isso acontece. Dados cadastrais desatualizados, sabe como é.
Mais umas quatro sem resposta, quando finalmente me atendem:
- Alô?
Reconheci imediatamente a voz:
- Ximbica!?

 
Publicado no jornal Alô Brasília em 06/09/2013.