DE VOLTA À TERRA NATAL, É SEMPRE MARAVILHOSO!

Lêda Torre

Colinas, minha terra natal, município do sul do Maranhão. Terra muito linda, cheia de serras ao redor, palmeiras de babaçu a perder de vista dão cor à paisagem que circunda essa cidade, banhada pelo rio Itapecuru, genuinamente maranhense. Sempre que retorno ao torrão amado, costumo viajar no sentido literal de dizer, num tempo tão remoto, que chega a dar prazer lembrar, porque tudo ali me recorda a infância, de forma saudosista mesmo. Dá pra perceber que tivemos momentos ditosos e felizes apesar de uma vida nada fácil naquela época, nada podíamos comprar. O jeito era se conformar com as nossas posses tão parcas.

Eu e meus sete irmãos vivíamos aventureiramente, sem medo de errar ou de se prejudicar. O objetivo era tão somente brincar e ser feliz. Brincar era tudo de bom, bastava tão somente isso. Planejávamos todas as nossas brincadeiras e, para cada dia um programa diferente: o local das brincadeiras era definido, quem iria participar também, quem seria o (a) líder para coordenar o “evento”, quais brincadeiras a nossa gente faria naquele dia, início e final das mesmas, de olho no tempo determinado pelos chefes superiores “nossos pais”, e tudo nos conformes, para que nada desse errado.

Lembrando que a condição para permanecer nas brincadeiras era, se algum dos brincantes, normalmente fizesse algo que não estivesse no “plano de trabalho”, certamente seria punido, ou seja, no dia seguinte, estaria fora das brincadeiras, salvo se jurasse que não mais incorreria em nenhum erro. Daí, estaria perdoado (a). É sempre salutar rememorar tão gostosas lembranças de infância!

Entretanto, vale enfatizar que meio a tantas brincadeiras, para nos orientar, um adulto fazia parte da direção do grupão. E quem mais participou nas nossas aventuras e que foi de grande importância, foi a Socorro da dona Carmelita, nossa vizinha, que por gostar muito de crianças, adorava gritar as palavras de ordem, como “boca de forno”, nos conduzia nas cantigas de roda, como a do “feioso, trá, lá, lá”, dentre outras.

Hoje quando volto em Colinas, vejo-a confinada a uma cadeira de rodas e , cuidada por uma sobrinha, muitas vezes é tratada grosseiramente, o que nos entristece. Costumo visitá-la toda vez que vou lá. Foi uma pessoa no passado tão cheia de vida, tão cheia de fervor, e como nos conduzia muito bem naquelas noites fagueiras de infância! Ela chora muito todas as vezes que nos vê, é de cortar coração, ver uma pessoa quase totalmente inválida.

Algumas brincadeiras eram assim:

BOCA DE FORNO

O líder do grupo faz um círculo com todas as crianças, sem dar as mãos, todos bem atentos. Fica o líder numa posição mais alta para dar as ordens, de preferência numa calçada, como fazíamos, e daí ele começa seu brado de tarefas às crianças bem atentas, pois brincar bem alegres era a primeira ordem;

Líder: - Boca de forno!

Crianças: (repetindo os brados) – Forno!

Líder: Jacarandá!

Crianças: Dá!

Líder: E quando eu mandar?

Crianças: Vou!

Líder: Remanin, remanin....vão buscar um sapato pra mim!

E numa correria desenfreada, as crianças corriam em disparada e, salvavam-se quem pudesse, iam adentrando as casas atrás do dito objeto pedido pelo líder, e quem chegasse por último, pagava uma prenda e não iria na próxima tarefa. Precisava-se ver o empenho e esforço que os brincantes desprendiam! Tudo para não chegar por último e principalmente para dar conta da tal tarefa.

Lá pelas 22 horas, já era hora de todos retornarem aos seus lares e devolver o objeto para quem tivesse tomado emprestado, pois o interessante é que toda a vizinhança já sabendo dessa rotina, colaborava, pois, normalmente eram os próprios familiares da gurizada.

E no dia seguinte seria uma nova rotina com outras brincadeiras, e parecia inesgotável o acervo das brincadeiras, e todo dia era esperada a hora de brincar na rua. Porém, as mães só deixavam seus filhos em especial as filhas, a brincarem, depois de terem concluído seus afazeres em casa. Seria besteira deixar de cumprir esse requisito para serem liberados para a noitada de brincadeiras.

_______São Luis, 05 de setembro de 2013___________________

Lêda Torre
Enviado por Lêda Torre em 05/09/2013
Reeditado em 23/06/2021
Código do texto: T4468780
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