Vizinhos, como não tê-los?
O salvamento de um Pinto foi a gota que faltava para transbordar o balde de inconsistência que se formou a relação entre o Brasil e a vizinha Bolívia. Na tentativa de por um fim a uma situação que já se arrastava há mais de um ano, um funcionário do consulado brasileiro na Bolívia resolveu por conta própria resgatar e transportar até o Brasil um senador boliviano asilado.
A ação foi amplamente criticada pelos membros do governo Brasileiro, custou a cabeça do ministro Patriota e rendeu críticas pesadas do governo boliviano. Por outro lado, nas redes sociais e na imprensa brasileira, a atitude do funcionário foi defendida e justificada diante de tantas barbaridades cometidas por Evo Morales e sua trupe em relação ao governo Dilma. No meio de toda essa confusão, o que mais chamou a atenção foi o fato de mais uma vez o governo brasileiro ter agido com parcimônia diante do vizinho.
A primeira grande demonstração de que Evo não respeita Dilma foi com a estatização das atividades da Petrobras na Bolívia. O Brasil perdeu milhões nessa brincadeira de mal gosto, precisou resgatar alguns milhões em equipamentos, perdeu outros milhões em investimentos e de quebra teve que trazer de volta centenas de funcionários expulsos. O Brasil não reclamou, como bom menino.
Passados os primeiros anos de governo, Evo seguiu tratando o Brasil não como um vizinho e parceiro econômico, mas como um inimigo, descumprindo acordos e agindo impulsivamente, seguindo o caminho do saudoso bolivariano Hugo Chaves. Com o senador asilado o tratamento não foi diferente, mantido sob a proteção do governo brasileiro na embaixada brasileira, Roger Pinto Molina esperou como todo asilado por um salvo conduto que por um acordo internacional já deveria ter sido concedido ao asilado.
Um jogo de cena que novamente revelou a inércia do governo brasileiro. Parado, congelado diante de uma região que apesar de economias pífias, fazem acordos lucrativos com outros blocos econômicos e fecham as portas de suas economias para os produtos brasileiros. Um desrespeito às claras, infinitamente maior do que qualquer ação tomada por um diplomata com 12 anos de experiência e com um cargo lá sem muita importância a perder.
A história ainda não acabou e o Brasil deve receber um pedido de extradição da Bolívia. Do jeito que anda se calando para a vizinhança, o futuro de Roger Pinto ainda é incerto, espera-se que ele tenha o mesmo destino que o italiano Battisti, acusado de terrorismo e vários assassinatos na Itália, mas que foi defendido pelo governo brasileiro e ficou por aqui. Feliz mesmo deve estar Patriota, demitido, vai trabalhar no exterior, longe de toda essa passividade.