Thom Yorke me disse
Volto no tempo. Um ano ou mais. Procuro objetos dá época. Muitos se foram. Outros apareceram. Na mão, uma aliança. Nome e data. Então por que aquela mesma dor de se perder em medos? Por que a sensação de que chove todo dia?
E chove mesmo. Parece que só pra me lembrar de ti. Como se eu precisasse de alguma ajuda do destino pra me lembrar que estou sem rumo. Como se precisasse olhar pra faca pra lembrar que fui atingido. E perdido. E sangrando. Então, por que ainda tenho isso?
É como na infância, nos videogames de corrida. Minhas mãos tremiam ao ver a possibilidade de atravessar a linha de chegada como o grande campeão. E tentava, em vão, manter um pouco de sanidade mental e corporal. No fim -bem no fim mesmo, no finzinho- eu perdia. Me perdia. Me perdi.
Lá se volta o Radiohead, as lágrimas, o desespero, a culpa. Meu Deus, como eu me culpo. Como pude ser assim?
Quando comecei a frequentar o mesmo ambiente, lembro que tinha um namorado. E eu, que só queria te fazer feliz, me igualei àquele traste humano: Um louco que te sufocou a felicidade até você esquecer o que era isso.
Eu fui um mostro e me culpo à toda hora por isso. Na chuva, nos olhares, nos alheios cabelos loiros ou pele alva. E me vem mais uma coisa do passado: te procurar incessante e obsessivamente em cada outra que passa por mim. Querer imaginar que há algo de ti por aí pra não me deixar completamente só.
Mais uma sensação: ao escrever num ritmo tão frenético, à medida que a súplica em melodia de Thom Yorke se torna maior em minha mente, me sinto pequeno diante da tela. Como se me sentisse um nada, como se sumisse, como se fosse virar pó a cada frase batida de dor que te escrevo. E nem sei porque escrevo.
E te queria por perto. Mas não pra te magoar. Então deixo pra lá. Melhor sofrer sozinho e morrer lentamente.
Lembrei: Escrevi como antes. Voltei no tempo