O Telefonema
Eram 04h18min da madrugada. Aquele sono pesado de quem fora se deitar bem depois da meia noite.
Em sonhos, sobrevoava pessegueiros em de floração. Um verdadeiro tapete rosa e branco. Imagem de encher os olhos de brilho.
Um barulho intermitente me despertou abruptamente. Bêbada de sono me dirigi ao outro cômodo onde o aparelho se encontrava em estado de absoluto desespero.
_ Alô! - com aquela voz de quem ainda não tinha acordado completamente.
_ Quem fala ai? – Pergunta uma voz vinda do outro lado da linha.
_ Com quem você quer falar? – Perguntei já não muito amistosa.
_ Quem fala ai? – Insiste o outro.
_ Você que ligou, portanto você que tem de dizer com quem quer falar - respondi tapando a boca com a mão, e disfarçando o grande bocejo.
_ Quero falar com o “das Neves” – disse a voz que vinha do telefone.
_ Não tem “das Neves” nenhum aqui senhor. Tenha uma boa noite – repliquei secamente, já no intuito de desligar.
_ Hei! Como não tem?! – Insistiu o homem – Se foi ele mesmo que me deu esse numero e disse que eu poderia ligar a qualquer hora!
_ Já falei que não tem não senhor. Boa noite – desliguei.
Caminhei a passos lentos até a cozinha. Apanhei um copo de água e retornei para a cama.
A madrugada estava tipicamente fria e os edredons fofinhos e perfumados, eram um convite. Deitei-me. Virei para o lado e apalpei os travesseiros.
_ Assim está melhor – falei comigo mesma, ajeitando os travesseiros debaixo da cabeça. Bocejei gostosamente e...
_ Não a crê di to! De novo não! Ninguém merece – falei já procurando os chinelos deixados à beira da cama. Bati a mão pela parede tateando o interruptor. Ao que acertei em cheio meu joelho na quina da cama, enquanto na sala, o aparelho continuava chamando estridentemente.
_ Pronto! – digo com voz nada amigável.
_ Alô! Eu queria falar com o “das Neves”... Ruivaldo das Neves – disse mesma voz de antes.
_ Mas será possível! Já falei que não tem ninguém aqui com esse nome – a essa altura já estava pra lá de irritadiça a minha voz.
_ Ah! Moça - desculpa. Agora que estou vendo aqui que inverti os números, disquei dois ao invés de discar o três – falou a voz do outro lado se justificando – Desculpa e Boa noite – desligou antes que eu pudesse dizer uma palavra.
Retornei para minha cama, mancando porque o joelho ainda doía. Mas o sono se foi. Não pude voltar a sobrevoar os campos floridos do sonho de antes. Rolei de um lado para outro e nada. Ele não chegava. Acendi a luz. Apanhei o controle da TV, na tela estava sendo exibido um filme qualquer, nada que me despertasse interesse. Apanhei um livro na mesa de cabeceira, abaixei o volume da TV e comecei a ler.
_ Só me resta você agora livro – falei fitando a capa do exemplar em minhas mãos – quem sabe o sono não volta hein! – Suspiro pausadamente.
_ Ninguém merece! Fala sério!
Andrea Cristina Lopes - Curitiba/Paraná