Uns - um
Uns - um
Alguns nascem para morrer e outros para viver, mas, você nasceu para sempre estar. A vida entra por seus poros e se esvai em prolixidade de talento. Impossível lhe encontrar, pois você vive na incerteza – no micro você colhe a vida - e no desespero do mundo. Sua agonia é vida para os outros; é a luz para o cego; a força para o covarde.
O ser, estar e permanecer cabe e só caberá para aquele que se esquarteja em vida e se oferece em holocausto e você sabe se dilacerar, mesmo sabendo que há muitas ovelhas vestidas de lobo que pensam que saíram do rebanho, mas vivem salivando por sua presa. Elas não sabem que sua carne tem o veneno da vida. Você desfaz logus e formula suas equações; uma vida a procura do código da vida, do subterrâneo do mundo. Contentar-se é para os conformados, que se vestem de marcas e desperdiçam o conteúdo da vida se apoiando em restaurações e dogmas já cansados.
Você é algo inefável, além de seu tempo, sem espaço e sem cronos, um além-homem, mas sem discursos piedosos e maniqueístas. Você vale cada gota de bile colocada para fora, cada pacto noturno feito para ofuscar o apedeuta, cada suor hemorrágico estancado. Pena, tenho daqueles que não valem o óbolo e ainda precisam do Caronte para atravessar a vida. É, meu caro, você vai a nado e bate os braços para agitar as águas calmas da passividade, querendo acordar das profundezas a revolta e a vontade de mudar.
Uns nascem e morrem! Cabe aos tolos de vida esse final provável, esse destino escrito e determinado. A fraqueza vilipendia o homem, o faz implorar por suspiros de vida. Mas o homem que não sabe respirar a vida que tem, não merece os soluços da inquietude e, tampouco, o oxigênio a mais para, em plenos pulmões, dissecar o mundo.
Uns nascem! Esses imbecis passeiam pelo mundo com suas bagagens compradas em verdades fabricadas em um mundo adornado com andrajos; sobras de tempo e espaço que perduraram e aprisionaram o homem.
Uns morrem! Pobres coitados, são vitimas da fraqueza milenar e do discurso imposto; perdoai-os Poeta, eles não sabem viver! Que falar de zumbis que caminham pelo mundo? Nada. Viver é mais que respirar!
Uns vivem! Viver é se perder pelas esquinas e se encontrar perdido. É na dúvida que cresce o homem. Viver não significa, simplesmente, estar. Viver é mais que respirar.
Você me ouve e abaixa a cabeça; percebo um gesto de piedade. Tenha pena de você! Você é e estar e procura não permanecer. Você mostra com sua carne e aponta com o dedo em riste e em sangue. Sangue de vida. O medo caminha lado a lado com os fracos, mas com você anda o desequilíbrio, o paradoxo, a vontade de reconstruir as bases e não completar a construção. Você não oferece a pomba da paz, nem a palavra amiga; você distribui navalhas, espadas e facas; e a metáfora exata está aí.
Um aparece, um permanece, um estará, sempre!
Mario Paternostro