Alea jacta est
Fui perguntado sobre os riscos de se praticar ciclismo no trânsito de uma metrópole ou de alguma outra grande cidade.
Calei-me.
Pensei e respondi:
_ "É muita gente normal dando vida a um trânsito anormal, o qual tantas vezes causa neuroses e tira vidas".
Julio Verne já escreveu que "os obstáculos existem para serem vencidos; quanto aos perigos, quem pode se orgulhar de fugir deles? Tudo é perigo na vida".
Mas, que saída se tem? Se mudar para Amsterdam ou Copenhagen? Tais cidades, em certos contextos, têm mais bicicletas do que carros no trânsito e cujo número de delas na capital holandesa supera o de habitantes... Não por acaso são tidas, há décadas, como cidades modelos de mobilidade urbana.
É possível ser cidadão do mundo, identificar-se com o que de bom há em cada hemisfério, continente, país, região.
Mais ainda, pela fé cristã, temos cidadania celeste, não havemos de nos conformar com este mundo, mas lutarmos para não nos degradarmos nele. Nem que isso acarrete algumas abstinências (do latim "abstinentia"), isolamentos (etimologia do latim "insula", ou do italiano "isola", que significa ilha) ou determinados danos (do latim "damnum"). Nesse ideal, também somos reputados como ovelhas para o abatedouro, numa causa aparentemente perdida:
Rom 8; 35-39. Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia: fomos reputados como ovelhas para o matadouro.
Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou.
Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor!
Microdigressão: de onde foram extraídos, por exemplo, elementos constitutivos para os personagens Capitão Nemo de Julio Verne; Robinson Crusoé, de Daniel Defoe; Príncipe Míchkin, de Dostoievski?
É preciso respirar fundo e tocar em frente, especialmente de bicicleta...
Mas respirar fundo, no sentido literal, implica em interiorizar nos pulmões o ar impregnado de partículas poluidoras do ar, lançadas por carros, motos e ônibus, estes últimos ícones do transporte de massa, tido como solução plausível aos caóticos congestionamentos. Assim como existem fumantes passivos, há os inalantes passivos, sejam ciclistas, pedestres ou os próprios motoristas... estes últimos acabam dando "tiro nos pés".
A tecnologia da eletricidade para motores de carros, ônibus, trens, motos e bicicletas existe, já está bem desenvolvida, acompanhada da tecnologia do hidrogênio veicular. Existem até carros movidos a ar!
Então, como podem ser lançados diariamente na atmosfera "rios de poluentes" via escapamentos?
Preciso pedalar e respirar algo melhor! E assim, em polissemia, inspirar ar e pessoas, transpirar pela saúde e pela digna mobilidade...
Ou será que, para contrabalancear, terei que cuidar ainda mais da alimentação já repleta de antioxidantes e depurativos? Chega-se num ponto em que alimentar-se de forma saudável, praticar uma sadia atividade física e dar uma parcela de contribuição ao desafogamento do trânsito não bastam.
A lei do consumismo e do mercado, além de manter insanamente combustíveis fósseis sendo queimados, acresce um "mar de veículos" no trânsito a cada dia, as ruas e avenidas não se expandem na mesma proporção, ao passo que a lei da Física diz que dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço. Portanto, conflito gerado, polêmicas disputas de interesses e opiniões, enquanto o futuro (já apocalíptico) do planeta está em jogo.
Epílogo: pensamento latino, Alea jacta est (a sorte está lançada).