* No começo do mês vou à casa lotérica do meu bairro pagar contas.
A casa lotérica daqui é movimentada e sempre está lotada, no entanto, apesar das grandes filas, não gasto mais do que quarenta minutos.
Existem três ou quatro caixas reservados para o cidadão “normal”.
Um ou dois caixas preferenciais.
Também existe um caixa que realiza apenas apostas.
Na última segunda fui fazer os pagamentos desse mês.
* Estava aguardando há uns trinta minutos.
De repente uma confusão ganhou força.
Uma senhora surgiu, na frente do caixa das apostas, reclamando.
O filho dela, um rapaz surdo-mudo, pegou a fila errada.
O jovem ficou esperando na fila das apostas, mas possuía uma conta para pagar.
A mãe, chegando depois e percebendo o engano, após o filho demorar um bom tempo na fila errada, desejava pagar a conta no caixa das apostas, afirmando que não aceitava pegar uma nova fila (a fila que eu acompanhava).
* A mulher exteriorizava uma irritação excessiva, talvez desnecessária.
Ela tomou a frente do caixa dizendo cobras e lagartos ao atendente.
Imediatamente percebi algo diferente naquela senhora.
Ela não parecia uma autêntica baiana.
Eu aposto que ela é uma cearense.
Considerando a garra inabalável e a energia contagiante que aquela pequena mulher revelava, com certeza ela só pode ser uma cearense retada a qual, de forma casual, escorregou nas terras baianas.
* O atendente não deu a mínima, demonstrando insensibilidade.
Aí a discussão engrossou.
A cearense baiana disse que não sairia dali.
Ela ressaltou que aquilo era uma tremenda falta de respeito.
Uma senhora, que estava perto de mim, saiu da fila “normal” e começou a palpitar na fila da confusão.
Eu imaginei que ela queria atuar como uma espécie de conciliadora.
Recordei os baralhos que apresentam uma carta-curinga.
A carta-curinga, conforme vocês sabem, pode substituir outras cartas.
É uma carta a qual ajuda demais quando o jogo complica.
O nome curinga também lembra o vilão que incomoda o Batman.
Eu decidi tornar a conciliadora a mulher-Coringa da nossa história.
A “Coringa” falou:
“Se não cobramos os nossos direitos, somos desrespeitados.”
Gostei!
Simpatizei no ato com a noiva do astuto Coringa.
* Fazendo cessar o conflito, um sujeito da fila “normal” (a minha fila) ofereceu a sua vez à cearense.
Muito ansiosa, suando bastante, falando vinte mil palavras por minuto, a baiana cearense aceitou a proposta.
O rapaz que fez a concessão agiu como os baianos na visão sulista.
Dizem que baiano é descansado, não tem pressa.
Contrariando essa opinião, eu estava com pressa.
Tudo o que eu queria era ver a minha fila andar rápido.
Após a cearense pagar a sua conta, ela saiu e lançou uma praga ao atendente da outra fila (a fila errada que o filho acompanhou).
Ela disse ao rapaz: “Lá, na frente, você vai encontrar!”.
Ouvindo a praga que ela lançou, a dúvida cessou.
Ela nunca foi baiana.
Baiano não lança praga.
Baiano assobia e chupa cana, adora dormir numa rede, corre atrás do trio elétrico, no entanto “lançar praga” não é a praia dos baianos.
Certamente a mulher indignada é uma cearense.
* Antes que vocês me interpretem mal, eu não estou querendo dizer que cearense é vingativo, ranzinza ou agressivo.
Nada disso!
O cearense é gente boa, da melhor qualidade, mas é esquentado.
O cidadão cearense, homem ou mulher, não engole sapo.
Existe, porém, nessa ocorrência, um detalhe o qual confirma o quanto o cearense é bacana.
Notem que a praga lançada realça um perigo meio bobo.
O atendente pode ter ficado assustado, todavia ele não tem o que temer.
Lá, na frente, ele vai encontrar muita felicidade e harmonia.
O cearense mostra cara de brabo, tenta assustar, no entanto possui um coração bem generoso.
Quinze minutos depois, a cearense nem sequer recordava o episódio.
Cearense é assim!
Fala, ameaça, mas, na hora H, é incapaz de matar uma formiga.
* As palavras da Coringa, a senhora que pertencia à minha fila e foi parar na fila da confusão, me emocionaram após a praga lançada.
Recordo que ela gritou:
“Abençoa ele (o atendente) também! Abençoa o rapaz também!”
Cinco segundos depois, ela complementou:
“Está todo mundo abençoado!”.
Que lindo testemunhar esse momento!
Se todo mundo desfrutava bênçãos, eu também tinha a minha cota.
Eu precisava demais ser abençoado.
Estou vivendo uma fase na qual a maré nega trazer qualquer peixe, portanto receber as bênçãos propostas pela Coringa me fez muito bem.
* Finalizada a cena, as filas diminuíram.
A mulher-Coringa retornou à fila original (a minha fila).
Enfim, a lotérica voltou a respirar ares rotineiros.
Doze minutos depois saí com as contas regularizadas.
* E a cearense?
Ah! A cearense, conduzindo o filho amado, seguiu em paz.
Repetindo o que eu disse, os cearenses não guardam mágoa.
Quando um cearense cruza o nosso caminho, teremos bastante barulho, raios e trovões alcançando todos os lados, entretanto a chuva será fininha, fininha.
Os cearenses são indivíduos porretas.
* Me disseram que as gatas cearenses são elétricas e animadas.
Fiquei curioso.
Eu acho que preciso namorar uma cearense.
Concordam comigo?
É ou não é uma excelente idéia?
Um abraço!
A casa lotérica daqui é movimentada e sempre está lotada, no entanto, apesar das grandes filas, não gasto mais do que quarenta minutos.
Existem três ou quatro caixas reservados para o cidadão “normal”.
Um ou dois caixas preferenciais.
Também existe um caixa que realiza apenas apostas.
Na última segunda fui fazer os pagamentos desse mês.
* Estava aguardando há uns trinta minutos.
De repente uma confusão ganhou força.
Uma senhora surgiu, na frente do caixa das apostas, reclamando.
O filho dela, um rapaz surdo-mudo, pegou a fila errada.
O jovem ficou esperando na fila das apostas, mas possuía uma conta para pagar.
A mãe, chegando depois e percebendo o engano, após o filho demorar um bom tempo na fila errada, desejava pagar a conta no caixa das apostas, afirmando que não aceitava pegar uma nova fila (a fila que eu acompanhava).
* A mulher exteriorizava uma irritação excessiva, talvez desnecessária.
Ela tomou a frente do caixa dizendo cobras e lagartos ao atendente.
Imediatamente percebi algo diferente naquela senhora.
Ela não parecia uma autêntica baiana.
Eu aposto que ela é uma cearense.
Considerando a garra inabalável e a energia contagiante que aquela pequena mulher revelava, com certeza ela só pode ser uma cearense retada a qual, de forma casual, escorregou nas terras baianas.
* O atendente não deu a mínima, demonstrando insensibilidade.
Aí a discussão engrossou.
A cearense baiana disse que não sairia dali.
Ela ressaltou que aquilo era uma tremenda falta de respeito.
Uma senhora, que estava perto de mim, saiu da fila “normal” e começou a palpitar na fila da confusão.
Eu imaginei que ela queria atuar como uma espécie de conciliadora.
Recordei os baralhos que apresentam uma carta-curinga.
A carta-curinga, conforme vocês sabem, pode substituir outras cartas.
É uma carta a qual ajuda demais quando o jogo complica.
O nome curinga também lembra o vilão que incomoda o Batman.
Eu decidi tornar a conciliadora a mulher-Coringa da nossa história.
A “Coringa” falou:
“Se não cobramos os nossos direitos, somos desrespeitados.”
Gostei!
Simpatizei no ato com a noiva do astuto Coringa.
* Fazendo cessar o conflito, um sujeito da fila “normal” (a minha fila) ofereceu a sua vez à cearense.
Muito ansiosa, suando bastante, falando vinte mil palavras por minuto, a baiana cearense aceitou a proposta.
O rapaz que fez a concessão agiu como os baianos na visão sulista.
Dizem que baiano é descansado, não tem pressa.
Contrariando essa opinião, eu estava com pressa.
Tudo o que eu queria era ver a minha fila andar rápido.
Após a cearense pagar a sua conta, ela saiu e lançou uma praga ao atendente da outra fila (a fila errada que o filho acompanhou).
Ela disse ao rapaz: “Lá, na frente, você vai encontrar!”.
Ouvindo a praga que ela lançou, a dúvida cessou.
Ela nunca foi baiana.
Baiano não lança praga.
Baiano assobia e chupa cana, adora dormir numa rede, corre atrás do trio elétrico, no entanto “lançar praga” não é a praia dos baianos.
Certamente a mulher indignada é uma cearense.
* Antes que vocês me interpretem mal, eu não estou querendo dizer que cearense é vingativo, ranzinza ou agressivo.
Nada disso!
O cearense é gente boa, da melhor qualidade, mas é esquentado.
O cidadão cearense, homem ou mulher, não engole sapo.
Existe, porém, nessa ocorrência, um detalhe o qual confirma o quanto o cearense é bacana.
Notem que a praga lançada realça um perigo meio bobo.
O atendente pode ter ficado assustado, todavia ele não tem o que temer.
Lá, na frente, ele vai encontrar muita felicidade e harmonia.
O cearense mostra cara de brabo, tenta assustar, no entanto possui um coração bem generoso.
Quinze minutos depois, a cearense nem sequer recordava o episódio.
Cearense é assim!
Fala, ameaça, mas, na hora H, é incapaz de matar uma formiga.
* As palavras da Coringa, a senhora que pertencia à minha fila e foi parar na fila da confusão, me emocionaram após a praga lançada.
Recordo que ela gritou:
“Abençoa ele (o atendente) também! Abençoa o rapaz também!”
Cinco segundos depois, ela complementou:
“Está todo mundo abençoado!”.
Que lindo testemunhar esse momento!
Se todo mundo desfrutava bênçãos, eu também tinha a minha cota.
Eu precisava demais ser abençoado.
Estou vivendo uma fase na qual a maré nega trazer qualquer peixe, portanto receber as bênçãos propostas pela Coringa me fez muito bem.
* Finalizada a cena, as filas diminuíram.
A mulher-Coringa retornou à fila original (a minha fila).
Enfim, a lotérica voltou a respirar ares rotineiros.
Doze minutos depois saí com as contas regularizadas.
* E a cearense?
Ah! A cearense, conduzindo o filho amado, seguiu em paz.
Repetindo o que eu disse, os cearenses não guardam mágoa.
Quando um cearense cruza o nosso caminho, teremos bastante barulho, raios e trovões alcançando todos os lados, entretanto a chuva será fininha, fininha.
Os cearenses são indivíduos porretas.
* Me disseram que as gatas cearenses são elétricas e animadas.
Fiquei curioso.
Eu acho que preciso namorar uma cearense.
Concordam comigo?
É ou não é uma excelente idéia?
Um abraço!