O ESCRITOR E A PENA
Amoça no restaurante ensaia um sorriso. O escritor, homem bobo, já pensa que é flerte; mas a verdade é que ela não quer nada comigo, nada além de uma conversa:
- O que você escreve tanto? – pergunta ela, rompendo a barreira que nos chama de estranhos.
- Escrevo sobre você! – respondo. Ela não acredita e espia as letras que desenho, tentando se achar nos meus garranchos.
- Como você pode escrever algo sobre mim, se nem sabe quem eu sou ou ao menos o meu nome? – pergunta novamente.
Gostaria de conseguir explicar, que não sou dono da pena, ela que é dona de mim; e quando toma de conta, ela é capaz de escrever coisas belas, ainda que eu nem perceba o que estou escrevendo.
- Escrevo sobre o seu sorriso – respondo – E sobre esse papo amigo entre desconhecidos. Talvez não faça o menor sentido para você e nem faz tanto para mim; mas escrever é um ato assim meio louco, onde o escritor tenta descrever o nada e acaba por letrar tudo que vê à frente. – explico e ela olha para mim, como se eu fosse um lunático - Eu te avisei, todo escritor é maluco!
- O meu nome é Lúcia! – responde ela, rindo e se despedindo, indo atender outra pessoa em outra mesa. Quanto ao escritor maluco, ele ficou brigando com a pena: “Você e essa maldita mania de escrever sobre todo mundo”.