Término
Foi uma mensagem de texto, como tantas outras que trocaram nesses 2 anos de namoro, que entregou o convite. “Cinema hoje? Tem uma sessão às 20hs. Bjs”. Não precisava dizer mais nada. Breno já sabia o shopping, provavelmente qual era o filme e com toda certeza quem seria seu par.
Se encontraram no lugar habitual, uma herança do tempo que os encontros eram marcados sem a ansiedade que um celular proporciona. Em frente ao McDonald’s, ao lado do carrinho de castanhas caramelizadas que perfumam o ar e custam uma fortuna.
Carlinha já esperava por ele, apoiando o braço direito na alça da bolsa. Ao avistá-la, Breno aperta o passo e abre um sorriso.
- Oi amor... Vamos? Já está em cima da hora e...
- Breno. Senta um pouco.
- Está com fome? Porque se for comer, melhor levar para o cinema.
- A gente pega outra sessão. Queria conversar com você um pouco.
A gravidade da situação ficou clara como neve para Breno.
- O que foi? Aconteceu alguma coisa no seu trabalho?
Carlinha responde com um suspiro penoso.
- Não, não é nada disso.
- Então o que é?
A resposta veio de bate-pronto, como se tivesse previsto a pergunta.
- Acho que a gente devia dar um tempo.
- Um tempo?
- É, um tempo. Eu tenho me sentido confusa, sabe? E preciso de um tempo para ficar sozinha e me encontrar.
Os olhos de Breno involuntariamente se enchem de lágrimas.
- Mas você só pode fazer isso sozinha? Eu posso te ajudar a se encontrar.
- Eu sei que sim, lindo. Mas é algo que preciso mesmo fazer sozinha. O problema não é você, sou eu.
Breno não sabia avaliar se o que doeu mais foi o clichê ou o pé na bunda. Mas Carlinha continuou implacável.
- Eu gosto muito de você. E gostaria muito que continuássemos amigos.
- É mesmo? Amigos? – Breno ganha vida, como se tivessem injetado ânimo nas suas veias.
- Ahnm, sim.
Breno se acalma.
- Puxa, que bom. Também gostaria. De verdade.
- Sério? Que ótimo, Breno. Por um momento achei que você está sendo irônico. Sabia que você ia ser maduro e reagir muito bem.
- Magina! Amigos.
Estendem os braços pela mesa e dão um efusivo aperto de mão. Depois de longos segundos, o silêncio de seus sorrisos só não evolui para um momento de leve constrangimento devido a uma pergunta.
- Qual o nome daquela sua amiga do curso de espanhol, uma morena, baixinha?
- Quem, a Bia?
- Isso! Sempre achei ela uma gatinha.
- Breno, quê isso?
- O quê? Você é minha amiga. Te conheço há anos. Não posso te contar esse tipo de coisa?
- Sim, mas...
- Então, como uma boa amiga, que me conhece bem e tal, podia me apresentar ela.
- Não vou te apresentar a Bianca.
- Por que? Ih... Ficou com ciuminho, é?
Carlinha sabia o que ele queria com tudo isso. Mas naquela sociedade, ela que entrou com o pé e ele com a bunda. Não ia dar esse gostinho.
- Claro que não! Eu que comecei essa amizade, lembra? Sério. A Bia não combina em nada com você.
- Ah, isso deixa que eu descubro.
- E outra. Ia ficar uma situação chata...
- Chata por quê? Na boa, eu sei quebrar o gelo muito bem. Já sei até o barzinho que vou levar. Aliás! Pensando melhor, a gente podia fazer um double date! Lembra do Marquinhos, meu primo? Ele é meio chucrão, mas é muito gente boa. Está na pista, posso falar com ele.
- Para Breno! Para! Que saco. Não vou te apresentar a Bia. E nem ninguém. Entendeu?
- Pô... Por quê?
O cinismo cafajeste de Breno irritava Carlinha profundamente.
- Por que você merece alguém que te valorize, sabe?
- Claro que mereço! Mas é o que dizem: enquanto não acho a certa, posso muito bem me divertir com as “errada”.
Riram. Olhando para baixo com um meio sorriso, Carlinha esperou os risos passarem para assinar sua rendição.
- Mas sabe de uma coisa, Breno? As vezes, a pessoa que você procura está mais perto do que você imagina.
Só subiu os olhos para dizer a última palavra de sua frase de efeito.
E assim, naquela mesa de shopping, começava uma bela amizade colorida.