Puts... Amor à vida?!

Assim como a grande maioria eu também vinha acompanhando o enredo da novela das oito. Comovia-me e achava graça, muita graça. Mas, não demorei pra entender que de engraçada não tem absolutamente nada.

Como assim?!

Ora! Todo mundo ali tem mais do que um desvio de caráter. Não é apenas uma mentirinha ali, uma lorota acolá. O fato é... Quando você pensa que acabou por aí, o caldo engrossa em comportamentos absurdos, porém naturalizados por uma névoa vinda dos novos tempos. Daquele tempo que diz ser normal enganar sua melhor amiga, contratando um garoto de programa pra se passar como suporto ‘cara legal’ interessado em tirar a virgindade da moça gorda.

Falando em gorda, quando é mesmo que o autor vai deixar de reproduzir a velha, no entanto perigosa e dantesca e equivocada, premissa da magreza como modelo ideal de “soldado” a serviço da ditadura da beleza? E qual o problema mesmo de uma pessoa permanecer virgem até um determinado estágio da sua vida?

É bom esclarecer que eu não estou levantando bandeira a favor da castidade, apenas questionando essa exigência de iniciação sexual a qualquer custo, como se o sexo fosse um deus sendo cultuado por uma legião que exala sensualidade e erotismo.

E no Brasil em que o negro contribui na constituição da sociedade com seu jeito e cores e credos, eu fico procurando as referências deste povo na novela. Onde estão mesmo? Bem, são personagens pontuais, eventuais e ínfimos, isso é tão verdadeiro que (no momento da escrita deste artigo, quanto na leitura) não se reconhece um.

Contudo, esse contesto de ausência é desenvolvido por ser o cenário principal da trama um hospital de alto padrão, onde o negro destoa? Então, estamos diante de uma sequela racista?!

“Mas, nem tudo está perdido” (você pode pensar), visto que nunca se deu tanta ênfase à questão da homossexualidade em uma teledramaturgia como agora. De modo que é comum identificar pessoas entre um afazer e outro, pausar para rir do humor trágico e das vilanias do personagem principal gay de gestos afetados, carregados pelo fardo da não-aceitação.

É evidente a importância do espaço conquistado para o debate sobre o horror de uma vida dupla, do preconceito que algumas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis enfrentam no âmbito familiar se estendendo por uma vida inteira. Sim, é valioso que as famílias brasileiras assistam ao abraço verdadeiro de uma mãe entrelaçando o seu filho com todas as suas diferenças, e que também possam refletir sobre a dor de um filho crucificado pelo afastamento do pai machista e totalitarista.

O perigo disso tudo é atribuírem toda responsabilidade de suas maldades e crueldades ao fato da figura paterna ser indiferente a sua condição sexual, pois até onde eu sei, o vilão tem sua veia criminosa justificada nessa rejeição. E, definitivamente eu não tolero o atenuante de doença para aqueles que são capazes de cometerem maldades inimagináveis.

Tudo bem! Apesar de julgar como urgente, para esse momento, um personagem gay principal sem esse invólucro de tormento e distúrbios, sou capaz de vislumbrar um avanço. Vejamos, por exemplo, o casal gay inserido logo no início da trama, representando uma das novas facetas da família moderna e sua expectativa em ter um filho. Tudo no conforme, até... Aparecer uma loura fatal cheia de boas e afáveis intenções, entretanto com o potencial de estremecer a fidelidade do casal. Nesse momento perdemos uma boa oportunidade de apresentarmos para a nossa sociedade carente de informação e homofóbica por natureza um exemplo salutar de uma relação gay sadia e próspera.

Enfim, nada contra a quem assisti à novela AMOR À VIDA. Só não se percam (se puderem) nas mensagens subliminares que transformam as mentiras, as traições, os esquemas de manipulação e mancomunação, os preconceitos disfarçados, o jogo de interesse, a sede pelo enriquecimento ilícito, as sabotagens e, como canta solenemente o poeta, os “amigos são amigos de ninguém” em realidades naturais.

De forma alguma, espero viver no “fantástico mundo de Bobby”, mas desejo sinceramente alcançar o tempo em que o poder midiático esteja a serviço do caráter, do respeito, da amizade, dos vínculos essenciais, das boas e reais referências de AMOR À VIDA.

Toni DeSouza
Enviado por Toni DeSouza em 01/09/2013
Código do texto: T4462542
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