A Primeira Vez em Paris.
Conhecia Paris através de Balzac, Hemingway e Scott Fitzgerald. Aprendi a admirá-la de longe, principalmente por meio de minha mãe, professora de francês e amante da cidade luz. Cresci ouvindo-a falar de Montmartre, do Quartier Latin, do Café de La Paix, de Saint Germain des Prés e de Notre Dame, com entusiasmo e alegria. Porém, não poderia imaginar como eu reagiria a Paris. Ousei achar que a cidade não poderia me surpreender.
Em comparação a um filme que todos elogiam, que a crítica enaltece, mas que quando o assistimos sentimos uma pequena decepção, assim eu preparei meu espírito para enfim desembarcar em Paris.
Chegamos a Orly no começo da tarde e no caminho entre o aeroporto e o hotel, em Montparnasse, já comecei a sentir os primeiros sinais de sedução com os quais a cidade envolve seus visitantes.
Na mesma tarde, após o check-in, descemos a Rue du Rennes em direção a Saint Germain onde já sentimos o charme e a elegância da cidade. O sagrado nos envolveu na igreja de Saint-Germain des Pres, a mais antiga da capital francesa e assim com o espírito leve atravessamos a rua em direção ao Les Deux Magots, onde paguei, com prazer, E$ 8,00 por um chocolate quente delicioso, mas que trazia em seu preço o glamour do café onde sentava o casal existencialista Sartre e Simone de Beauvoir. Onde até hoje vemos pessoas bem vestidas lendo, escrevendo, namorando ou simplesmente observando as pessoas em volta.
Falando em glamour, a cidade ainda é a capital da moda, mesmo que concorra com New York e Milão, atualmente. Porém, caminhando em Paris, percebe-se que os parisienses não aderem em massa aos modismos. Vestem-se com estilo e são vaidosos, mas não são massificados. Adorei ver as mulheres com cabelos elegantemente desalinhados. Senti-me em casa com meus cachos rebeldes e, feliz em constatar, que as francesas não são escravas da chapinha.
Naquela noite fria, no Champs Elysées, Paris me conquistou para sempre. Não acredito que haja no mundo rua mais esplendorosa. A avenida larga, arborizada e com o Arco do Triunfo ao fundo, é majestosamente bela.
Terminamos a primeira noite em Paris, visitando a Torre Eiffel. Senti-me como uma criança diante de um presente há muito desejado. A torre, vestida com incontáveis lâmpadas em contraste com a noite escura, fez festa em meus olhos. Lembrei dos parisienses conservadores que se revoltaram contra o projeto de Gustav Eiffel à cidade, na ocasião do centenário da Revolução Francesa. Ainda bem que os protestos desses senhores e senhoras tradicionalistas, não foram atendidos.
Paris ainda me ofereceria muito mais. Dos museus, destaco o Louvre, do qual só vi undécimo do todo, em face de sua grandeza (em todos os aspectos). Aliás, o Louvre me encantou de imediato. O conjunto formado pelo Jardim das Tulherias, o Arco do Carrossel, construído por Napoleão e a Pirâmide de Vidro (também alvo de protestos) é um encontro harmonioso entre o antigo e o moderno. O pátio de entrada é uma atração à parte. Ao adentrar o museu, um acervo milenar nos espera e a Vitória Alada nos recebe fazendo prender a respiração pela primeira vez. Depois é só nos deslumbrarmos com as obras ali em albergadas, destacando os italianos e, claro, a Mona Lisa de Da Vinci.
Paris também é o Sena e as suas mais de trinta pontes. A Ponte Alexandre III é a mais suntuosa, contudo a Pont Neuf - a preferida da minha mãe - impressiona por sua distinção e antiguidade.
E Montmartre, o que dizer desse bairro tão peculiar? O encanto tem início na subida pela rua estreita, cheia de lojas de souvenir e na música executada por músicos despretensiosos em suas calçadas. Chegar ao cume da colina é chegar ao Sacre-coeur e dentro da basílica fazer uma prece em agradecimento pela vida, sem esquecer de agradecer à visão divina de Paris aos pés de Montmartre.
Naquela tarde chuvosa, abriu-se para nós a Paris boêmia, onde artistas contemporâneos de várias nacionalidades e etnias ocupavam com seus trabalhos a Place du Tertre, como já fizeram antes Degas, Toulouse-Lautrec, Renoir e Van Gogh.
Porém, Paris é muito mais. Paris é plena de tesouros e a mim foi oferecido o presente de conhecer a cidade, com a melhor intérprete e cicerone - minha mãe - na companhia de minha filha estudante de arquitetura, fascinada com tudo que via, com minha irmã e duas amigas, todas encantadas e decididas a voltar.