A CRÔNICA É O MEU GÊNERO MAIOR...
Depois de um tempo sem escrever, eis que me pego rascunhando mais uma crônica. Acho que é a necessidade de voltar às minhas raízes, de escrever coisas do cotidiano, de colocar em suas linhas uma pintura mais avivada de seus personagens e, com isso, suavizar os seus contornos; enfim, para pôr em seu pano de fundo uma cor mais da moda e que seja mais atraente aos olhos de quem a lê – tudo isso, sem deixar de lado a magia da poesia em suas entre frases.
É verdade, caro leitor. O cronista também é conhecido como poeta do cotidiano dos nossos dias – frase dita por alguém –, pois consegue, dentro da subjetividade do que escreve amenizar as cores gris de um quadro que ele vê e/ou o opaco de uma aquarela em uma parede sem verniz de um corredor de museu. Isto tudo, sem perder de vista a janela que lhe abre a paisagem para um mundo cheio de cores e fantasia onde impera a beleza do ficcional (licença poética) com o real.
É nesse painel, muitas vezes, rico em palavras ou expressões, que se produzem sentidos figurados (metáforas), em sentenças que expressam mais de uma acepção ou entendimento possível (ambiguidade) e/ou na figura de linguagem (figuras de estilo) que consiste na exposição de ideias opostas e que ocorre quando há uma aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos (antítese), que a crônica ganha as cores de um arco-íris e faz a ponte entre o diálogo com o leitor e o monólogo do autor com o seu objeto de enunciação.
Portanto, é diante disso tudo que eu gosto de escrever sobre cotidianos, de observar suas figuras ocasionais e dar-lhes rostos, corpos e até nomes. É claro que um bom cronista é, essencialmente, um bom observador. Ele se especializa nos detalhes, nas coisas que passam despercebidas para a maioria das pessoas, mas que, para o cronista, se configuram no pincel cuja ponta passa a delinear os contornos de uma tela em óleo ou no giz que escreve na lousa um poema de Fernando Pessoa.
Alguns a classificam como gênero menor (Antonio Cândido, in “A Crônica” – 1981 p, 5), pois segundo ele – sem desmerecer a crônica –, jamais um cronista receberá um prêmio Nobel pela sua obra. E termina dizendo assim: graças a Deus! – só assim ela fica perto de nós!
Pode ser, mas o que seria dos cotidianos se não fossem um Rubem Braga (O Vento que Vinha Trazendo a Lua), um Fernando Sabino (A Última Crônica), uma Martha Medeiros (Acho a Maior Graça...), um Luiz Fernando Veríssimo (Minhas Férias) e um Rubem Alves (A Menina e o Pássaro Encantado)? E olha que não estou nem falando de um Clauder Arcanjo, um Mário Gerson, um David de Medeiros Leite, um José Nicodemos, um Francisco Rodrigues da Costa, entre outros, que são do meu estado, e que, em minha opinião, escrevem crônicas iguais ou até melhores que os ilustres mestres.
Mas deixemos de lado tanta prolixa de palavras e vamos ao que interessa: a observação do nosso cotidiano...
Pois é... Outro dia eu estava na sala de trabalho (algumas pessoas dizem que eu sou um cara privilegiado, pois trabalho em uma sala com 5 mulheres! Bem, um dia eu falo sobre esse “privilégio”) quando uma das colegas recebeu uma ligação. Na linha do celular, o esposo da mesma.
Embora ninguém “quisesse” ouvir a conversa, o assunto foi ficando interessante e, claro, todo mundo parou para ouvir o que eles estavam falando, mesmo porque o diálogo parecia ser de uma cobrança ou até mesmo um puxão de orelha – dado pela esposa, claro!
- Fulano (aqui eu peço permissão para declinar o nome do dito cujo), você já merendou? Olha, você não pode ficar sem comer, meu filho. Eu deixei, na geladeira, uma vasilha com maçã, uvas e melão. Você comeu?
....
- Fulano! Você não comeu? Comeu o quê, então?
....
- Biscoito, fulano! Meu filho, você já está com as taxas alteradas e ainda assim fica comendo massas!
....
- Você não tem jeito mesmo, viu? Eu não vou ligar mais não, viu? Você sabe que não pode ficar comendo massas, tomando refrigerantes e chupando sorvetes. Depois a sua mãe fica dizendo que eu não cuido de você e eu levo a culpa.
....
- É assim que você me agradece, é? Você não tem pena de mim e de seus filhos, não?
....
- Mas não tem nada não. Eu vou deixar de ser “besta” e não vou ligar mais não. Você coma o quiser, beba o que achar melhor, mas depois não venha você e nem a sua mãe me dizer que a culpa é minha, viu?
....
- Sabe de uma coisa, meu filho: quem morre é quem perde a vida!
Depois que a preocupada colega desligou o celular, tomou ciência de onde estava e olhou para nós, ninguém (e pode acreditar no que estou falando) estava sem fazer nada, muito menos olhando para ela. Todos nós estávamos, na verdade, “atarefadíssimos” fazendo o quadro de rendimento das escolas e isso exige uma concentração muito grande a ponto de nada ao nosso redor valer a pena ser observado e nem ouvido.
Acreditem...
Imagem da Web
Depois de um tempo sem escrever, eis que me pego rascunhando mais uma crônica. Acho que é a necessidade de voltar às minhas raízes, de escrever coisas do cotidiano, de colocar em suas linhas uma pintura mais avivada de seus personagens e, com isso, suavizar os seus contornos; enfim, para pôr em seu pano de fundo uma cor mais da moda e que seja mais atraente aos olhos de quem a lê – tudo isso, sem deixar de lado a magia da poesia em suas entre frases.
É verdade, caro leitor. O cronista também é conhecido como poeta do cotidiano dos nossos dias – frase dita por alguém –, pois consegue, dentro da subjetividade do que escreve amenizar as cores gris de um quadro que ele vê e/ou o opaco de uma aquarela em uma parede sem verniz de um corredor de museu. Isto tudo, sem perder de vista a janela que lhe abre a paisagem para um mundo cheio de cores e fantasia onde impera a beleza do ficcional (licença poética) com o real.
É nesse painel, muitas vezes, rico em palavras ou expressões, que se produzem sentidos figurados (metáforas), em sentenças que expressam mais de uma acepção ou entendimento possível (ambiguidade) e/ou na figura de linguagem (figuras de estilo) que consiste na exposição de ideias opostas e que ocorre quando há uma aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos (antítese), que a crônica ganha as cores de um arco-íris e faz a ponte entre o diálogo com o leitor e o monólogo do autor com o seu objeto de enunciação.
Portanto, é diante disso tudo que eu gosto de escrever sobre cotidianos, de observar suas figuras ocasionais e dar-lhes rostos, corpos e até nomes. É claro que um bom cronista é, essencialmente, um bom observador. Ele se especializa nos detalhes, nas coisas que passam despercebidas para a maioria das pessoas, mas que, para o cronista, se configuram no pincel cuja ponta passa a delinear os contornos de uma tela em óleo ou no giz que escreve na lousa um poema de Fernando Pessoa.
Alguns a classificam como gênero menor (Antonio Cândido, in “A Crônica” – 1981 p, 5), pois segundo ele – sem desmerecer a crônica –, jamais um cronista receberá um prêmio Nobel pela sua obra. E termina dizendo assim: graças a Deus! – só assim ela fica perto de nós!
Pode ser, mas o que seria dos cotidianos se não fossem um Rubem Braga (O Vento que Vinha Trazendo a Lua), um Fernando Sabino (A Última Crônica), uma Martha Medeiros (Acho a Maior Graça...), um Luiz Fernando Veríssimo (Minhas Férias) e um Rubem Alves (A Menina e o Pássaro Encantado)? E olha que não estou nem falando de um Clauder Arcanjo, um Mário Gerson, um David de Medeiros Leite, um José Nicodemos, um Francisco Rodrigues da Costa, entre outros, que são do meu estado, e que, em minha opinião, escrevem crônicas iguais ou até melhores que os ilustres mestres.
Mas deixemos de lado tanta prolixa de palavras e vamos ao que interessa: a observação do nosso cotidiano...
Pois é... Outro dia eu estava na sala de trabalho (algumas pessoas dizem que eu sou um cara privilegiado, pois trabalho em uma sala com 5 mulheres! Bem, um dia eu falo sobre esse “privilégio”) quando uma das colegas recebeu uma ligação. Na linha do celular, o esposo da mesma.
Embora ninguém “quisesse” ouvir a conversa, o assunto foi ficando interessante e, claro, todo mundo parou para ouvir o que eles estavam falando, mesmo porque o diálogo parecia ser de uma cobrança ou até mesmo um puxão de orelha – dado pela esposa, claro!
- Fulano (aqui eu peço permissão para declinar o nome do dito cujo), você já merendou? Olha, você não pode ficar sem comer, meu filho. Eu deixei, na geladeira, uma vasilha com maçã, uvas e melão. Você comeu?
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- Fulano! Você não comeu? Comeu o quê, então?
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- Biscoito, fulano! Meu filho, você já está com as taxas alteradas e ainda assim fica comendo massas!
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- Você não tem jeito mesmo, viu? Eu não vou ligar mais não, viu? Você sabe que não pode ficar comendo massas, tomando refrigerantes e chupando sorvetes. Depois a sua mãe fica dizendo que eu não cuido de você e eu levo a culpa.
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- É assim que você me agradece, é? Você não tem pena de mim e de seus filhos, não?
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- Mas não tem nada não. Eu vou deixar de ser “besta” e não vou ligar mais não. Você coma o quiser, beba o que achar melhor, mas depois não venha você e nem a sua mãe me dizer que a culpa é minha, viu?
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- Sabe de uma coisa, meu filho: quem morre é quem perde a vida!
Depois que a preocupada colega desligou o celular, tomou ciência de onde estava e olhou para nós, ninguém (e pode acreditar no que estou falando) estava sem fazer nada, muito menos olhando para ela. Todos nós estávamos, na verdade, “atarefadíssimos” fazendo o quadro de rendimento das escolas e isso exige uma concentração muito grande a ponto de nada ao nosso redor valer a pena ser observado e nem ouvido.
Acreditem...
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