A bequinha
Na sala não tinha lugar para ela. Lá era o palco da chávenas, cheias de café
passado na hora e servido às visitas. Tinha que se contentar com a copa e a
cozinha, e sem brilho, servia humilde, a bequinha.
Feita de estanhado, com o cabinho longo, achatado e furado na pontinha, logo
que lavada era pendurada no escorredor, geralmente na fieira mais baixa, pois as
mais altas eram reservadas aos esmaltados, aos copos de lata e alguma ou outra
concha, nem de ouro, nem de prata.
A bequinha não tinha semelhante. Ser só, singular, era de sua natureza sem par.
Gosto por ela tinha toda a meninada, mas sendo uma só, fazia-se de cobiçada - até
a graça ser alcançada.
O bom dela, que açambarca do leite que ainda péla, ou da canjica que se acha
melhor numa tigela, era ter aquele biquinho de um lado, pra nada entornar do lado
errado. Pena é que o certo nunca anda mais perto.