A bequinha

Na sala não tinha lugar para ela. Lá era o palco da chávenas, cheias de café

passado na hora e servido às visitas. Tinha que se contentar com a copa e a

cozinha, e sem brilho, servia humilde, a bequinha.

Feita de estanhado, com o cabinho longo, achatado e furado na pontinha, logo

que lavada era pendurada no escorredor, geralmente na fieira mais baixa, pois as

mais altas eram reservadas aos esmaltados, aos copos de lata e alguma ou outra

concha, nem de ouro, nem de prata.

A bequinha não tinha semelhante. Ser só, singular, era de sua natureza sem par.

Gosto por ela tinha toda a meninada, mas sendo uma só, fazia-se de cobiçada - até

a graça ser alcançada.

O bom dela, que açambarca do leite que ainda péla, ou da canjica que se acha

melhor numa tigela, era ter aquele biquinho de um lado, pra nada entornar do lado

errado. Pena é que o certo nunca anda mais perto.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 01/09/2013
Código do texto: T4461432
Classificação de conteúdo: seguro