Só mais uma historia sobre mulheres

Naquela semana ela tinha estado especialmente triste, aliás, desde que a sua irmã caçula casou-se, ela, a única solteira e sempre solitária da família, ficou meio “deprê”, mas segurou sua onda legal. Porém nesta semana em especial ela estava se sentindo a última das mulheres, a estima estava lá nos pés.

Semanas antes fora visitar uma de suas irmãs casadas no sábado e ficou até domingo pela manhã assistindo a felicidade daquela rotina de familiar. Ao sair de lá chorou feito criança ao pensar que estava voltando pra casa e para ninguém, não havia ninguém que ela amasse e de quem fosse amada também.

Ela mora só, em lugar lindo perto do mar, sua casa é bonita e elegante, mas não é luxuosa, è uma mulher simples (se é que mulheres conseguem ser simples). Há uma rede na varanda da casa onde costuma deitar aos finais de semana em que não trabalha, na rede ela lê, lê de tudo, ler é o seu refúgio. Neste domingo ela estava péssima a solidão estava deixando-a bêbada, como quando você vê alguém que está visivelmente embriagado, tão possuído pelo álcool que afirma completamente grogue: não estou bêbado! Lá estava ela largada na rede, quando um casal de amigos a convidou para passear, levantou-se e foi; levada pela necessidade imensa de qualquer companhia. Lá se foi ela sorrindo e repetindo frases e abanando a cabeça, apenas indo... E de repente ela se perguntou - Meu Deus o que eu to fazendo aqui?!

Mas já era tarde, ele já tinha se juntado ao grupo e por algum motivo que ela nunca soube explicar não tirava os olhos dele, muitos dias depois de tudo ela ainda conseguia olhar os olhos dele mesmo sem vê-los. Aquilo foi um despertar de sentidos e sentimentos que a deixou zonza: - Como pode eu ainda sentir este tipo de coisa? Pensava.

Mas era determinada se ela viu, se chamou sua atenção, não sossegará até que possa saber do que se trata, ela já o tinha visto antes em uma mesa redonda falando sobre tolerância religiosa e coisas afins, sua figura incomum já há intrigara, desde então guardou sua imagem como quem guarda uma paisagem que nos impressiona.

E lá estava sua paisagem bem em sua frente... Ele era calado, reservado, mas não tímido, ela sabia que ele também ficou intrigado e que eles se aproximariam inevitavelmente, aliás, nossa amiga via com o terceiro olho (era meio bruxa como toda mulher precisa ser) e logo soube o que aquele homem significaria para ela. Soube que seria dele uma vez apenas e bem mais que corpos suas próprias almas se tocariam uma única vez, nesses anos todos, nenhum homem a enxergara por dentro como ele. Ele a olhava como se a visse em um raio-X, sabia quem ela era, nos olhos dele, ela se viu espelhada, viu segredos seus que nem conhecia. Isto a deixou dias sem dormir antes e depois que tudo acabou.

Naquela noite eles falaram sobre tudo, como poesia eles rimavam, um começava o outro terminava na mesma harmonia. Harmonioso também foram os sons e os movimentos quando seus corpos se tocaram finalmente. Eram almas se tocando, por um momento seus corpos habitaram um mesmo lugar, e se tornaram apenas uma alma em um corpo. Para ela foi claro e puro tudo que os envolveu.

Quando o dia amanheceu ela já não era mais a mesma. A alma dele nela e a dela nele mudaram para sempre sua vida. Nas semanas seguintes, ela ligou umas duas vezes para ele, que gentil disse que viria vê-la.

Mas o que se seguiu foi o silêncio...

Ela chorou com a alma, já não se reconhecia, entristeceu-se grandemente como há muito não entristecia, assim foram muitos dias. Mas em meio aquela dor esquisita, forte demais para algo que sabia como acabaria, ela percebeu que estava mudando por dentro e aquela dor se parecia como dores de parto, algo estava se quebrando e ao mesmo tempo se formando dentro dela. Então se sentou na sala de sua casa tirou de dentro de si tudo que tinha: amores, ódios, alegrias tristezas, raivas, virtudes, transgressões, pecados, perdões, ofensas, deuses, diabos e ele... Espalhou tudo, deitou no meio de sua própria vida e chorou, chorou até que tudo começou a flutuar em volta dela e ela em volta de tudo. Quando suas lágrimas secaram se levantou, Deus sorriu dizendo a ela, que não traz consigo dor alguma. Então a ela colocou tudo de volta dentro dela e contente de ser quem é se pôs de pé.

Não era mais a mesma e já não trazia consigo dor alguma.

Tinha dado a luz à mulher que viu espelhada nos olhos dele.

leni jacob
Enviado por leni jacob em 31/08/2013
Código do texto: T4460853
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.