TRAGÉDIA DA FRAQUEZA HUMANA
Lendo e interpretando textos nos mais variados canais de comunicação, vê-se a mudança de paradigmas que se operou nos últimos anos. Algumas dessas mudanças para pior, outras para melhor. É de parar para pensar na enorme diferença de postura das pessoas em relação às coisas do mundo atual.
Há um provérbio africano muito interessante que diz o seguinte: “quando a boca tropeça, é pior que o pé”. Interpretar esse provérbio é trabalho para alguns minutos de reflexão, pois se um tropeço do pé pode ocasionar lesões e contusões sérias, que demandem longo tempo de tratamento para cura, como poderia ser pior um tropeço cometido pela boca?
Esta indagação leva a muitas análises e ponderações de fatos já ocorridos na história universal e também no cotidiano, as quais talvez elucidem a assertiva africana. Primeiramente, a história da África e seus diversos povos já seria um motivo para entendimento de que, quanto menos se falasse, menores seriam as consequências sofridas pela população. Em outras palavras, o silêncio traria menos aflições.
A democracia ateniense permitiu a Sócrates que se defendesse, diante do tribunal popular, da acusação de ter corrompido jovens com suas palavras. Ele dedicava-se ao que considerava ser uma missão que lhe foi confiada pelo deus Delfos e que o tornara “um vagabundo loquaz”: dialogar com as pessoas, de forma a que elas justificassem seus conhecimentos, habilidades, virtudes. Sócrates alegava que “apenas sabia que nada sabia”. Disse que se suas palavras corromperam a juventude, tanto pior, mas que mentia quem afirmasse que ele dizia outra coisa. Até o último momento, sua fala foi serena e mostrava ter a consciência tranquila. E foi condenado. Teria tropeçado sua boca?
Outras implicações ocorrem pelos tropeços da boca e estas vão muito além da necessidade de curativos que funcionam como paliativos. A vida só vale a pena se for movida pelo amor em todas as suas formas e extensões e pelo respeito pelo outro que tem capacidade inata e ou de trabalho intelectual. O que sai da boca ou deixa de sair dela causa estranheza, muitas vezes e leva, inclusive, ao fastidioso tédio.
Inúmeras ocasiões há em que os homens deixam de verbalizar por medo de se depararem com uma verdade superior que os possa suplantar e envergonhar. Melhor que se calem, para que não sejam motivos de indignação, de opróbrio, de ignomínia, desonra, infâmia, repulsa e afronta ao ser humano. Fechada a boca, para que não tropece, não se corre o risco de testar se a pessoa ofendida vai engolir a injúria ou devolvê-la na medida adequada.
Por isso, viver é correr riscos, por eles e neles, viver é enfrentar desafios causados pelo desrespeito e pelo desamor ao próximo. No enfrentamento desses riscos, há que cuidar para que a boca não tropece e adotar o desprendimento necessário que corresponda aos ensinamentos cristãos, a fim de que se negue a si mesmo e se tome a sua cruz, conforme bíblicas palavras.
A cultura e a cidadania caminham juntas e uma depende da outra, para que se viva plenamente na sociedade. Conforme são as ideias, sem fronteiras, a cultura também não as tem e está em processo evolutivo permanente. Para a compreensão dos valores éticos e morais, é importante que se tenha a percepção de que eles guiam nossas emoções e o juízo que fazemos de nosso semelhante.
Disso depende a existência ou não da cidadania, a qual está fortemente ligada à noção de direitos e deveres. Aquele que segue esses preceitos sabe perfeitamente a diferença existente entre tropeçar com a boca ou com o pé. François Mauriac foi perfeito quando disse que todas as criaturas sabem o que é o mal e que poderiam evitar cometê-lo. A natureza do homem é abençoada, quando não é corrupta.
A literatura é tão antiga quanto a palavra e ela é fruto da necessidade dos homens. O desrespeito e fatos obscuros foram definidos por William Faulkner como uma grande tragédia da fraqueza humana. Segundo ele, o escritor tem obrigação de celebrar a comprovada grandeza e capacidade, trazendo à tona os sonhos obscuros e perigosos, com o propósito de aperfeiçoá-los.
Assim sendo, na boca está o maior perigo, entretanto, podemos parafrasear São João Apóstolo: No fim é o Verbo, e o Verbo é o homem, e o Verbo está com os Homens. As ideias devem seguir os mesmos moldes dos espíritos, os quais devem estar mais aperfeiçoados em cada oportunidade que lhes é dada.
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ESTA CRÔNICA FOI ESCRITA COM O INTUITO DE EXPRESSAR MINHA INDIGNAÇÃO FRENTE A FATOS ABJETOS, PELOS QUAIS UMA PESSOA AMIGA VIU-SE AGREDIDA EM SUA INTEGRIDADE PROFISSIONAL. RESERVO-ME O DIREITO DE NÃO CITAR O NOME DESSA PESSOA, PELO RESPEITO QUE DEVO A ELA.
Londrina, 31.08.2013
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