O aluno e a poesia
Aquela semana na escola estava que era um alvoraço só. Meninas moças corriam para lá e para cá em busca do que não aprendeu até então. Métrica, fórmulas, regras, conceitos, tudo fervilhava em suas memórias, o tempo tempestuoso, agitava. A hora chegara, a professora de Português com seus livros grossos nos braços, passos apressados e miúdos apontou no corredor, tinha cara de poucos amigos. E agora? Chegou a hora tão esperada, a hora da prova, oh que hora! Antes ela havia dito que teríamos de escrever um poema na prova, e acreditem, isso de fazer poesia não é comigo, nunca fui bom nisso, acho um desperdício de tempo, bom pelo menos era assim que pensava até aquela hora da manhã. Imaginem, eu escrevendo versos, pensando meloso igualzinho algumas moçoilas da minha classe? Não, eu não iria conseguir tal façanha. A professora se aproximava, e de longe pude identificar entre os livros grossos um pacote de folhas que deduzi ser as tão esperadas provas. De novo o pânico mental tomou conta do meu intelecto.
Um silêncio pairou no corredor da escola, vagarosamente fomos adentrando a sala, Betinha, aquela menina que antes só se preocupava em ler revistas teen e contemplar seus cabelos loiros que escorria costas afora, agora apresenta uma ruga na testa de seu rosto angelical. Mas vamos lá, como diz o ditado popular, quem morre de véspera é só peru em véspera de Natal, o jeito era me esforçar ao máximo para tirar pelo menos um seis.
Ao acomodar-me em meu canto, percebi que a professora havia mudado alguns colegas de lugar, e para minha felicidade, Betinha, aquela menina de cabelos longos e loiros que lia revistas teen, sentara à minha frente. Fiz o que pude, me esforcei para responder a todas as perguntas, e como prometido pela professora lá estava a última pergunta.
08- Construa uma poesia que conste no mínimo três estrofes e doze versos. O tema é livre, use sua imaginação e viaje no mundo das palavras e da fantasia.
Ora, eu estava mesmo atônito, como usar minha imaginação se não conseguia lembrar- me o que era uma estrofe, tão pouco o que era um verso. Tudo fugira da minha mente. Fiquei imóvel por alguns instantes. De repente meu olhar pairou sobre aquela cabeleira loira a minha frente, meus pensamentos fervilharam, pude sentir o perfume do seu shampoo de flor de jabuticaba em suas madeixas. De uma maneira violenta as palavras gritavam dentro de mim para serem escritas, jogadas para fora de meus pensamentos como uma enxurrada de inspiração enlouquecedora. Meus dedos já não obedeciam ao meu comando, simplesmente deslizavam na folha de papel em branco, e foi assim que escrevi meu primeiro poema, A menina da janela amarela.
Márcia Mirene