POR UM SORRISO

Cansadas de tanto brilhar num espaço parado e descomunal, as estrelas apagaram suas luzes, independente, rebeldes, no intuito de descer à terra para abraçar os de imaginação quimérica. Não havia luar, o sol já não refletia sua luz noturna no Satélite da Terra, tudo mudava num céu eterno e misterioso. As estrelas cadentes não logravam chegar aos poetas, caíam no mar, pereciam nos abismos insondáveis e eram engolidas pelo infinito. Eu apenas via tudo isso em êxtase, sem compreender todo esse inusitado movimento dos astros comovidos, porém mesmo assim desejava agarrar alguma das estrelas em meu rumo. Elas, no entanto, nunca ficavam ao meu alcance, na fricção atmosférica se transformavam em fogo as que não afundavam nos oceanos. Eu ria e chorava, cantava e emudecia, só num universo cheio de pessoas entregues ao mutismo. Ninguém falava, não vi um único sorriso desenhando meiguice, não percebi nenhum gesto de abraço, nem beijos, nem afeição, nem amor, nem ódio, nem qualquer sentimento tão próprio do ser humano.

Tudo que eu queria naquele momento em que as constelações se movimentavam agitadas nas alturas infindas era ganhar um sorriso, alguém que corresse em minha direção e me abraçasse, falasse algo com ternura ao meu ouvido. Se assim acontecesse eu corresponderia, responderia com a mesma moeda da afeição, do carinho, da fraternidade. Todavia, onde estava o brilho dos olhos humanos? Teria o sol também retirado de nossos olhos esse pequenino raio iluminante capaz de fazer um rosto feliz? Que acontecia com homens e mulheres, por onde fugira a amizade? Na próxima esquina dobrara? Esvoaçara com o vento brando? Estaria nalgum bico dum beija-flor melancólico? Sim, porque a tristeza imperava sobremodo, todos só queriam era chorar, clamar sem razão, derramar lágrimas simplesmente porque no peito o coração explodia num manancial de angústia.

Debruçavam-se tantas estrelas em nossa direção, a lua se despedaçava em milhões de fragmentos, o sol apagara sua fogueira eterna e a escuridão imperava nos quatro cantos do Universo. Ficáramos cegos por falta de entendimento, a compreensão escapava de nossas almas como água escorrendo entre os dedos entreabertos, tateávamos nos debatendo em vão, braços tocavam em braços, mas, apavorados, e iam, não completavam abraços, não se entrelaçavam como outrora. O mundo estava cego, surdo e mudo. E nós, seres humanos, entristecidos, vagávamos a esmo, nada sentindo senão dor, uma dor extrema que não doía na carne, só na alma atordoada, só no espírito desnorteado. Essa dor aumentava e diminuía como vão e vem as ondas ao bel prazer da brisa, e não se tratava de mágoa, ia muito além, era algo muito mais complexo.

Súbito, consegui agarrar uma estrela, ou um simples pedaço dela, foi esse o único momento em que vi um sorriso, contudo não se tratava de um sorrir bonito nem feliz, não passava de algo somente parecido, assemelhado, a lembrar a existência de mero esboçar de riso. Isso, todavia, por si só, já me fez ter esperança. Tentei deixar escapar algo de igual teor em minha boca, nos olhos, no rosto, então, quase sem notar, imitei por instante o que imaginei ser um sorriso. Foi quando comecei a sentir no recôndito de mim, no mais profundo âmago, o fio de certeza de que ainda havia condições de encontrar a luz ao fim de algum túnel, bastava tentar, prosseguir a caminhada ainda que nas brumas, seguir em frente. Afinal de contas, um pequeno sorriso acabava de ser semeado em meu coração.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 29/08/2013
Código do texto: T4457891
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