Maioridade Penal

Depoimento de um adolescente, que eu ouvi hoje num desses programas sensacionalistas que ajudam na digestão da nossa população...

Ou, como a maioria prefere, um depoimento de um "Marginal assassino vagabundo imundo indigente indigesto mendigo":

Repórter: - Você tão novo, rapaz, o que te leva a fazer isso?

Menor: - Meu "sinhô", eu num tenho nada a perder não.

Repórter: - Mas você sabe que o caminho é só esse, né? Ou vai preso, ou morre.

Menor: - Eu sei sim, tô na vida é pra isso mesmo, mato mesmo, e sei que um dia vou morrer também.

Apontar o dedo e dizer "Morre!", qualquer um faz. Quero ver se preocupar com as bases da vida de quem vive na periferia, me diga onde esse apelo cotidiano, principalmente nessa mídia parcial e metida a conservadora, das TV's que trabalham em nível estadual e municipal, vai ajudar a nossa sociedade.

Quando reduzir a maioridade penal vai surtir mais efeito contra a violência do que uma educação de base firme e de respeito?

Quando juntar adolescentes que, em sua maioria, não conhecem o que é viver, com criminosos de alta periculosidade, vai regenerar ou surtir efeito de reparação psicológica e social?

"Dizem que quem quer, segue o caminho certo... mas ele se espelha em quem tá mais perto." - Racionais Mc's

Se eu não conheço algo, vou saber que esse algo existe? Se eu não sei o que fazer de uma vida miserável que me impuseram, não estudo, minha família é paupérrima, meu futuro foi castrado, e eu sou castrado todos os dias, de oportunidades, de projeção, de sorrisos, e me arrisco na marginalidade, que direito você tem de se preocupar com o que vão fazer comigo agora, se não se preocupou antes?

Todo pobre, toda gente da periferia, rouba?

Mata? Fere as leis?

Lógico que não (Apesar de, do alto de alguns edifícios que beiram o mar, alguns pomposos pensarem que sim), mas a vida mata cada pessoa de um modo diferente... ela encontra o modo que mais vai doer, e machuca. E amedronta.

No fundo, no fundo, é fácil condenar quem já cumpre pena de vida, quem já vive numa morte anunciada. A sociedade é hipócrita...

E não, não vou levar nenhum menor pra criar, antes que alguém pense em dizer isso...

Eu queria poder, sim, criar, junto com todos, uma sociedade igualitária, em todos os sentidos, em todas as direções.

Onde a morte seja algo natural, e onde ninguém fardado tenha o direito de me bater, onde não haja medo, onde haja pessoas, e nelas as suas particularidades.

Ninguém é melhor, mais certo, e nem mesmo mais importante, do que ninguém.

Raiva número 1: A entrevista do rapaz.

Raiva número 2: Precisar colocar foto em currículo pra demonstrar boa aparência.

Eis os motivos da revolta.

Daniel Sena
Enviado por Daniel Sena em 29/08/2013
Código do texto: T4457740
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