O sermão

O sermão

È necessário a implosão para que venha o desvelar. Aqueles que tiveram suas estruturas remodeladas pelas incertezas do percurso são obrigados a apontar a estrada contrária que, até hoje, serviu para chegar aos objetivos.

Alguns necessitam e precisam de ajuda, pois andam doentes de certezas e verdades e fraquejam ante o desvelar do mundo; não compreendem o complexus e simplificam a imensidão de dúvidas com apenas uma única resposta. A implosão é a liberdade de pensar e de contradizer; é o homem, finalmente, entendendo a sua finalidade. Não é fácil desconstruir os alicerces milenares, tampouco, tirar as vendas dos olhos, a cegueira da ignorância e fazer enxergar toda a incompletude de um desconhecido e conhecer o instante e nele estabelecer as metas da existência.

A grande noite caminha com o fraco e o faz se perder e tropeçar em sua escuridão. Ela o cega e a claridade, que a mesma oferece, ofusca a razão. Tudo contribui para confortar o covarde e mantê-lo sobre a vigília dos olhos arregalados do dominador. Como acender a luz se a luz acesa ofuscou e cegou grande parte?

A liberdade de escolha foi cerceada a partir do momento que a verdade foi introduzida e estabelecida; tudo passou a responder a um único propósito, uma única verdade. Todos os passos, todos os pensamentos, toda a vida segue para, apenas, um final. Ó aventurados...

Ó doentes de vida, não busquem a certeza, não entendam o desconhecido; conheçam os acidentes e saibam que a grande noite é um véu a vendar os olhos e estabelecer a suas imposições.

Ó doentes de mundo, o grande mal é o mal que lhes foi determinado, o discurso da fraqueza e do subserviente. Dei-lhes oportunidades de escolher os percursos e não seguir a uma metáfora.

Ó doentes da verdade, entendam que nada é estabelecido, tudo está agora, amanhã, desfaz. Respondam com dúvidas e perguntem para complicar, mas não aceitem, ó doentes, a equação exata.

Ó doentes das zonas de conforto, atravessem as esquinas de suas ignorâncias e se arrisquem no desconforto da descrença.

Ó doentes da alma, rezem e orem por vocês mesmos e façam o divino crer em seu deus.

Ó doentes da covardia, enfrentem os demônios da existência sem os véus da explicação cômoda e “infalível”.

Ó doentes de liberdade, abram as portas da cadeia que vocês mesmos criaram e sigam perdidos, perdidos, mas, achados; não há destino, há caminhos.

Ó doentes de existência, não limitem a vida, não condicione o pensamento, não metrifique os desejos; controle-se, mas não seja controlado.

Ó doentes do corpo, não flagelem, ainda mais, a liberdade de ser. Seja o que seja é ser e, nunca, permaneça. Jamais fique estabelecido!

Ó doentes da conformação, desestabilize o mundo interior e desvele o infinito que há em vocês. A eternidade começa na reconstrução do cadáver homem.

E, assim, segue a vida, o mundo e as reticências.

Bendito os “desaventurados”, pois alcançarão a plenitude, por conseguinte, logo.

Mário Paternostro