Às vezes penso:  você  não existe, ou então errou de endereço e se extraviou de vez. Por que ainda não veio? Esta demora não chega a me derrotar, mas ganha alguns assaltos da ilusão, até por dois pontos de vantagem. O combate é tipo uma luta de boxe sem limite de duração.
Há muito desisti de sair a sua procura. Visualizei você brincando com a minha espera insistente, se escondendo feito criança por entre a multidão e mandando as mais diversas amigas periodicamente lhe representar. Umas carinhosas, outras carentes, perdidas, tontas, sérias – todas tendo em comum um só detalhe: não são você (creio que lhe reconhecerei pelo perfume).
Agora optei simplesmente por deixar-me encontrar. Passo o tempo distraído com prazeres menores. O máximo que me concedo é, discretamente, uma ida, vez por outra, à janela sob o pretexto (de mim para mim) de olhar a rua... quem sabe você ali no momento estaria passando?
Não tenho idéia definida de como este encontro acontecerá, nem do tipo de impacto que causará em ambos . Suposições, muitas. Imagino um acontecimento casual, inesperado como um susto, de consequências próximas ao êxtase, com um leve sabor de infinito. Por hoje isso é o bastante.
(texto do meu livro de humor reflexivo O Homem perante a mulher, 1990)
Karpot
Enviado por Karpot em 29/08/2013
Reeditado em 24/11/2014
Código do texto: T4457116
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