Paradoxo do Niilismo

Não sabemos quão efêmera é a qualidade da nossa realidade. Talvez sejamos a consequência de um pensamento ocasional, o qual tenha durado apenas um infinitesimal intervalo de tempo na mente de uma criatura comum em seu meio, mas onipotente se comparada a nós. A existência, como a conhecemos, seria não mais do que um mero devaneio na mente de tal ser.

Imagine que a explosão que deu origem ao nosso universo tenha sido o início dessa simples reflexão ocorrida, e a partir daí, as evoluções foram ocorrendo naturalmente. Imagine também que a entidade tenha, por algum motivo, idealizado algum dos habitantes deste plano, e que este indivíduo seja a razão de tudo que existe, e em questão dos seus atos e pensamentos os fatos universais aconteçam.

A realidade, então, seria considerada imprecisa e totalmente imperfeita, pois como admitir que apenas um ser exista realmente e que todo o resto a nada se destina? Para entender isto, teríamos que nos acostumar com a ideia de que a vida é como um sonho (sem considerar essas palavras um exercício de retórica).

Se alguma dessas teorias tiver fundamento, não podemos admitir que existimos, e sim que vivemos num mundo imaginário, que se desenvolve até que algum ser exclusivamente real consiga atingir o nirvana espiritual, e nesse momento o nosso universo deixaria de existir (o que se espera como “o fim do mundo” na cultura humana).

Um dos problemas estaria ainda na hipótese de que a importante criatura não encontre o ponto-âmago de sua alma e seja seduzido por ideais comuns de um ser humano qualquer, claro que por não saber de sua importância no mundo. Quando ele morresse, o universo estaria condenado à eternidade (para a sorte de nós, seres imaginários figurantes), ou implodiria.

Isso aconteceria a não ser que o indivíduo-chave dessa ideia reencarne sucessivamente, ou então, que o primeiro ser onipotente mencionado crie outros semelhantes a esse no mesmo universo. Sem esquecer que, para existir num contexto complexo, as noções de causa e consequência reverberariam por todo o tempo (passado e futuro), no que seria um efeito borboleta elevado à enésima potência. Mas nesse ponto, a confusão predomina dada a miríade de possibilidades de seguimento, que poderia ser subdividido em várias ramificações.

Talvez então o hedonismo seja realmente o fundamento principal desta nossa talvez-não-real existência.

E que nossos simples pensamentos não sejam pontos de partida para a criação de universos tão misteriosos e insanos quanto no qual vivemos!

1997

Cássius Rodrigues
Enviado por Cássius Rodrigues em 28/08/2013
Reeditado em 28/08/2013
Código do texto: T4456542
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.