Fantasia e disfarce

Lá pelas tantas, depois de algumas latinhas de cerveja, inebriado pela folia e chamuscado pelo álcool, me vi ali, batendo um papo com o Zorro e paquerando a bailarina de sapatilhas e curtíssima saia branca. Na avenida Rio Branco, em meio àquela confusão toda, um personagem chamou-me a atenção: não foi o super homem com sua cueca vermelha e capa azul, nem a coelhinha que passou ao lado daquela diabinha linda com seu tridente em punho, nem muito menos o pirata da perna de pau. De repente me vi acompanhando o movimento de um clóvis velho e desbotado. O ritmo forte da marchinha do Cordão da Bola Preta fazia um mar de gente, no largo da Cinelândia, pular em um só compasso mas, o danado do clóvis não conseguia acompanhar a multidão e foi, com certeza, essa falta de sincronia entre ele e o restante da cena, o que mais me chamou a atenção. E lá vem ele, um passinho pra direita, para; olha pra baixo por alguns segundos e segue... É como se fosse um fantasma no meio da multidão que se acotovela, abaixa novamente e sai do quadro que focalizo... a bailarina não para de me olhar... Maldito clóvis, isso é lá hora de aparecer? Agora já não sei se danço, converso com o zorro, paquero a bailarina ou presto atenção no clóvis que segue avançando, vou acabar perdendo a amizade do zorro, bebendo cerveja quente e levando um “toco” da bailarina.

Quem não chora não mama

segura meu bem a chupeta

lugar quente é na cama

ou então no Bola Preta

O ritmo é forte, não tem como ficar apático e mesmo assim o diabo do clóvis desentoa, um passinho pra esquerda, olha pra baixo e, no meio da multidão, novamente sai do quadro. Foi assim até que, entre uma cotovelada e outra, chegasse a minha frente o estranho clóvis. _ A latinha moço, joga fora não! Dei-lhe a lata e vi, naquele momento, em seus olhos um brilho triste atravessando de maneira irremediável a marchinha do Cordão da Bola Preta, que seguia...

Quem não chora não mama

segura meu bem a chupeta...

Foi ai, nesse exato momento, que percebi a sutil diferença entre fantasia e disfarce.

Paulo.

Gavião Caçador
Enviado por Gavião Caçador em 11/04/2007
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