DAMASCO
DAMASCO
Entro no supermercado, e logo a entrada há um ponto de degustação, oferecendo damascos. Aceito a oferta e delicio-me com a doçura suave do fruto, tenro e macio.
Aprecio também sua cor amarela, meio pálida, que confirma que o amarelo é o mais expressivo entre os matizes.
Subitamente sem saber por que, meu pensamento desloca-se para Damasco, cidade mais antiga habitada continuamente no mundo, e que passa agora por uma catástrofe humana de proporções inimagináveis. Num flash, passam pela minha cabeça corpos de crianças inertes, enfileiradas, esperando a cremação, as casas e edifícios em ruínas, os sons de tiros e obuses, a morte singrando por todo lado e tingindo o solo de vermelho.
O fruto, repentinamente fica azedo, amargo e recuso uma nova oferta. Ao mesmo tempo fico pensando como os homens podem, ao mesmo tempo, cultivar tanta doçura e tanta amargura.
Saio, esquecendo-me de minhas compras.