Bienais todos os anos
Teve início aqui em Brasília a Bienal de Poesia, organizada pelo Açougue Cultural T-Bone. Oficialmente o nome é “Bienal do B”, porque a sua primeira edição, em 2011, foi um plano B depois do governo cancelar a Bienal Internacional de Poesia prevista para aquele ano. O curioso é que esta Bienal acontece todos os anos. É compreensível, talvez até desejável: sendo extremamente raros os eventos literários na cidade, toleramos que as bienais sejam feitas anualmente. “Literatura” deixou até mesmo de ser uma aba na agenda de eventos da Secretaria de Cultura do GDF. É desnecessário, pois quase nada é promovido.
Tudo isso numa cidade que ocupa o terceiro lugar entre as capitais com maior índice de leitura no país. Em grande parte isso se deve à necessidade física e orgânica do brasiliense em passar num concurso público. Existem até mesmo algumas pessoas que leem, leem muito, leem desesperadamente, para que um dia possam passar num concurso público e então nunca mais precisem ler nada na vida. Também estas ajudam a aumentar o índice de leitura.
Por vários anos, tivemos uma Biblioteca Nacional muito bonita, mas com o pequeno inconveniente de não ter livros. Quer dizer, livro tinha, só não podiam ser lidos. Problemas de licitação. Havia computadores e salas de estudo, mas livros não. Até que recentemente divulgou-se uma pérola digna de figurar no Febeapá do Stanislaw Ponte Preta: “A Biblioteca Nacional de Brasília (BNB) anuncia o oferecimento de mais um novo serviço: a consulta e o empréstimo de livros do seu acervo físico”. Naturalmente, corri para poder experimentar essa curiosa inovação.
Ano passado houve uma ótima Bienal do Livro, mas não estou seguro de que volte a acontecer. Teremos daqui a alguns meses a Feira do Livro, mas, a julgar pelas oficinas e palestras das últimas edições, pode ser chamada também de Congresso de Saúde. Portanto, que venham as bienais de poesia, venham todos os anos, venham a cada seis meses, mas venham.