"SER OU NÃO SER, EIS A QUESTÃO". SHAKESPEARE.

Questão principal posta à inteligência, buscada febrilmente pelos que "são" e sob dramática perseguição pelos que "não são" e nunca serão, flechas do destino para um futuro sempre desconhecido, sabor féleo e amargo da vida em curso, recusada e em porfia travada, o "eu" e o "id" no embate sem tréguas que apascenta o ser e o não ser, interrogação que edifica e mata.

Sofrer alvejado por pedras e setas, dormir o sono indesejado depois de alentado mar de provações, morrer, livres então do tumulto talvez sonhar, vendo atrás a angústia dos infortúnios, a irrisão do mundo, o agravo do opressor, A INSOLÊNCIA OFICIAL, AS DILAÇÕES DA LEI, os doestos dos NULOS SUPORTADOS, vida fatigante, mérito paciente, a mais perfeita quitação que se dá.

Será mais nobre?

-----------------------------------------------------------------------------

“Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre

Em nosso espírito sofrer pedras e setas

Com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja,

Ou insurgir-nos contra um mar de provações

E em luta pôr-lhes fim? Morrer.. dormir: não mais.

Dizer que rematamos com um sono a angústia

E as mil pelejas naturais-herança do homem:

Morrer para dormir... é uma consumação

Que bem merece e desejamos com fervor.

Dormir... Talvez sonhar: eis onde surge o obstáculo:

Pois quando livres do tumulto da existência,

No repouso da morte o sonho que tenhamos

Devem fazer-nos hesitar: eis a suspeita

Que impõe tão longa vida aos nossos infortúnios.

Quem sofreria os relhos e a irrisão do mundo,

O agravo do opressor, a afronta do orgulhoso,

Toda a lancinação do mal-prezado amor,

A insolência oficial, as dilações da lei,

Os doestos que dos nulos têm de suportar

O mérito paciente, quem o sofreria,

Quando alcançasse a mais perfeita quitação

Com a ponta de um punhal? Quem levaria fardos,

Gemendo e suando sob a vida fatigante,

Se o receio de alguma coisa após a morte,

–Essa região desconhecida cujas raias

Jamais viajante algum atravessou de volta –

Não nos pusesse a voar para outros, não sabidos?

O pensamento assim nos acovarda, e assim

É que se cobre a tez normal da decisão

Com o tom pálido e enfermo da melancolia;

E desde que nos prendam tais cogitações,

Empresas de alto escopo e que bem alto planam

Desviam-se de rumo e cessam até mesmo

De se chamar ação.” SHAKESPEARE. HAMLET.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 27/08/2013
Código do texto: T4453769
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.