A melhor coisa é perder o segredo
Objetos de aço ou de ferro, grandes ou pequenos, chamados de cofre, quando vistos ou lembrados sempre despertam a curiosidade, sobre seus guardados, principalmente estando longe das tesourarias. O primeiro cofre de verdade que avistei estava instalado no térreo da prefeitura Nova em Porto Alegre, título recebido para distingui-la da outra, também batizada, no caso de Prefeitura Velha. Nunca pude entrar lá dentro, na verdade uma única vez pude dar uma espiada, estava eu, acompanhando o meu pai, então pelo corredor na direção da cozinha avistei a grande porta aberta e lá dentro numa escrivaninha o tesoureiro Mascarello mexia em alguns papeis. Depois com a curiosidade de meus 10 anos perguntei ao meu pai, não sobre o que havia lá dentro, mas como conseguiam abrir aquela porta tão grossa e pesada, ele respondeu que dois ou três funcionários iam empurrando lentamente e uma roda de ferro sobre um trilho circular assentado no chão auxiliava na tarefa.
A vida andou mais um pouco e na cidade de Rio Pardo recebi um só para mim, de ferro, pintado de verde enfeitava o ambiente e servia para guardar algumas armas apreendidas. Sobre ele havia um busto de Julio de Castilhos, oco pela parte de baixo, que no passado servia de esconderijo. Alguns metros adiante, duas ou três salas havia outro, porém mais moderno, mas segundo o responsável, tinham perdido o segredo e ninguém sabia o que havia lá dentro. De posse de um estetoscópio consumi algumas horas, tentando vários segredos que me alcançaram e o único sucesso que tive foram nas duas primeiras voltas. Pelo estetoscópio ficava nítido o encaixe exitoso. Passado algum tempo encomendamos o trabalho de um profissional do ramo, que armado com um maçarico, fez um buraco na parte traseira do cofre, quebrou o concreto e pronto: estava aberto, lá dentro havia uma cópia do segredo, que foi restaurado. De importante não havia nada, somente o segredo, tudo para frustração da plateia.
Durante décadas as organizações da Brigada Militar colecionaram três ou mais cofres, que aos poucos foram perdendo a utilidade e hoje muitos deles, já sem segredos, não guardam nem o próprio como aquele violentado pelo maçarico.
Não guardemos segredos pela vida toda, eles, os segredos consomem muito esforço e talvez um dia não haja plateia, quando precisarmos nos desfazer deles.