A churrasqueira do Vô Otavio

Desde que me conheço por gente, faço churrasco. Talvez por ser filho e neto de açougueiro e andar entreverado com toda aquela fartura de carne, talvez por ser filho único e não ter ninguém para me escorar, talvez por intrometido mesmo e gostar de furungar. Só sei que sempre foi assim, na infância, na mocidade e principalmente agora depois de matungo velho. Tenho prazer em ficar na volta da churrasqueira lidando com os espetos, seja o tipo de carne (gado, porco, ovelha, frango) e a quantidade que me for apresentada, seja qual for o evento também pois só não fiz churrasco em velório, ainda. O tipo de churrasqueira também não me assusta, pode ser dentro de casa, na rua com tijolo escorado, de tonel deitado, de tonel em pé (poucos conhecem, mas fica de primeira), de porta de geladeira etc... o que importa mesmo é a função. O verdadeiro churrasco gaúcho não utiliza churrasqueira, pois a carne é assada ao lado da brasa com os espetos cravados no chão (faço este também, mas normalmente fico pronto antes da carne). Mas é claro que tive em quem me espelhar, alguém que fazia do churrasco um evento, o meu querido Vô Otavio. Eu tinha 15 anos quando o Vô faleceu, mas tenho bem nítido em minha memória os churrascos que meu velho fazia, era uma quantia descomunal de carne, ele sabia que ninguém corre de fartura, só se corre de miséria, por isso ele não economizava no assado. o Vô era um gaúcho da cepa, ginete, domador, laçador, um campeiro completo. Só que nunca teve na sua casa uma churrasqueira de tipo nenhum, não sei se por birra ou xucrismo mesmo, só sei que cada vez que ia fazer um churrasco, se atracava com uma pá de corte, marca "sete cravos" , a abrir um buraco de 2m x 1m, hora debaixo da sombra de uma laranjeira, hora debaixo de um telhado que tinha oa lado do açougue, por causa da chuva. E lá se iam dois troncos de bananeira pro chão, para fazer o apoio dos espetos, pois como a bananeira é só fibra e água não queima e ainda dá pra se cravar a ponta do espeto no ângulo que quiser. A saudade invade o peito desse gaudério ao lembrar de tudo isso, mas é uma saudade gostosa, gostosa como os churrascos que meu Vô fazia e que procuro fazer a todas as pessoas do meu convívio.

Um buraco é a churrasqueira

pra um assador bem campeiro

que da lenha faz braseiro

na sombra da laranjeira

no tronco da bananeira

carne gorda espetada

trova e conversa fiada

chimarrão, cuca e cachaça

sinto que o tempo não passa

num dia de churrascada.

Tabajar Carvalho
Enviado por Tabajar Carvalho em 26/08/2013
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