Tia Iaiá chegou
De ordinário no nosso pacato Brumado da infância, eram nossas tias paternas que nos regalavam com presentes natalinos. Coisas singelas, que marcavam a data e a festividade dos espíritos. Brinquedos mesclavam-se com bens de utilidade doméstica, indo o leque de garruchinhas de espoleta, bonecas variadas a guardachuvinhas de verdade. E era uma festa.
Mas houve um natal diferente, não me lembrando agora se era pre ou pos natal: o que sei foi que tia Iaiá, que vivia em Belorzonte, chegou lá em casa numa tardinha e trazendo presentes para nós todos: dois baldinhos de praia pras manas Latoya e Labelle, uma bola de borracha pra mim, um bondinho de lata pro Beu, e uma outra bola, esta bem mennorzinha para o mano caçula Kashi.
Ah, havia ainda uma bandeja de metal, pra mamãe. A dita bandeja trazia impressa uma gravura alusiva ao episódio do Sete de Setembro, o imperial Dom Pedro em empinada pose no dorso de seu cavalo, e um carro de boi, num cantinho do quadro, com o carreiro estarrecido diante daquele imperial cenário de proclamação.
E não bastasse tanto presente, tia Iaiá trouxe consigo sua filhinha Pollyana, de olhos azuizinhos e doiradíssimos cacheados, que regulava em idade e idéias com a mana Latoya.
Fingindo-me Intirtido com o quique veloz da nova bola não me ative ao que as meninas falavam ou faziam entre si. E nem convinha aproximar-me mais pra não dar ares de boiolagem, pois com pouco poderia estar sendo convidado a jogar mariquinhas...
Mas meus chutes enviesados por entre o arvoredo do quintal, por mais que caprichados, não tiveram plateia …nem ativa, nem furtiva…