A ESCADA
A escada era de ferro, os degraus de madeira. Em seu desenho de espiral, ligava a sala ao escritório e este à garagem. Mas numa manhã de sábado, a escada quebrou.
Seu sexto degrau, de baixo para cima, cedeu ao cansaço de inúmeras subidas e descidas, e a armação de ferro quebrou em dois locais: no eixo soldado no corrimão e em uma de suas pontas na outra extremidade.
Era um contratempo, um imprevisto. Acarretara até um susto, pois o som que seguiu a fatalidade confundiu os desavisados com o de uma queda. Mas não foi esse o caso, não havia queda pela qual se lamentar.
Apenas a escada, quebrada e imprópria para uso, permanecia como contratempo. E que contratempo.
Por estar inutilizada, quem estivesse na sala e quisesse ir ao escritório, por exemplo, teria que fazê-lo cruzando o terraço e passando primeiro pela garagem.
Era para evitar isso que a escada estava ali, para facilitar o caminho. Ainda que passasse despercebida, quando funcional, quebrada era notada.
Por ter quebrado em dois locais diferentes comprometera a estabilidade dos seus dois degraus vizinhos. Assim, não era seguro sequer ignorar o degrau quebrado, seja na descida ou na subida. Tal como uma corrente que de nada servia com um elo quebrado, era a escada com seu degrau fraturado.
Ela agora fizera entender o efeito do relacionamento. Quebrado ele é um transtorno. Inteiro, ele é um aliado, sempre nos ajudando e levando para onde queremos chegar.