Supermercado
O pai chega do mercado. Filha e mãe chegam para auxiliar na organização. Latas pra lá, pacotes pra cá, e um pacote meio aberto de - pasmem - salgadinho sabor churrasco.
- Isso aqui veio aberto ou você que abriu? - pergunta a filha.
- Eu que abri. Dei prum cachorrinho que fica do lado de fora do supermercado.
E assim o pai começou a tagarelar sobre o cachorro simpático e bonitinho que estava do lado de fora do mercado. Ficou com dó e deu um pouco de salgadinho pro bichano que, infelizmente, rejeitou. A mãe ouvia a estória com desdém, mas o pai seguia falante.
- Mas até que ele tá bem, gordinho e tudo, tem umas moças que cuidam dele lá. Ele é um barato.
A mãe, indignada, não se aguenta:
- Oxe, que grande bosta cuidar do cachorro na rua. Por que não levam pra casa se gostam tanto? Povo sem noção.
E foi assim que descendeu uma nuvem de tensão na cozinha. Arre, que chatice, pensaram ambos pai e filha. O pai, inquieto, apenas deu uma olhadinha de soslaio para a filha, que já tinha a resposta na ponta da língua.
- Até parece que todo mundo tem condições de enfiar um cachorro dentro de casa. Tá achando que toda casa é espaçosa ou tem quintal?
- E daí? Quem quer, arranja um jeito.
- Afe. Virou fiscal da vida alheia agora?
- Não me enche, menina! Parece tonta.
Após a troca de frases pouco agradáveis e muito discordantes, a mãe arremata seu discurso com uma máxima:
- Ih, sei não, viu... você anda com uma ideias muito... muito... estranhas mesmo. De gente louca.
Mas ficou muito claro. Ao invés de "ideias estranhas", a gente sabe que ela queria dizer algo como "ideias esquerdistas", ou coisa similar. A filha, percebendo a hesitação da mãe para finalizar a frase e entendendo a intenção, não fez nada senão rir. O pai obviamente já tinha saído de fininho. Melhor assistir TV que se enfiar em discussão de mulher.