Na prisão os dias escorriam lentos e escuros. O tamanho da cela me fazia ter falta de ar. No fim do quarto dia colocaram um companheiro na mesma cela. Meu companheiro era professor universitário e músico. De uma sensibilidade à toda prova, preocupava-se bem mais com minha segurança do que com a dele. Combinavámos muito. Não nos faltava assunto para conversarmos. Tínhamos a mesma ideologia, o mesmo prazer em escrever e ouvir as mesmas músicas. Eu continuava com a mesma roupa do dia de minha prisão, cinco dias atrás. Como tudo aconteceu de madrugada e Campina Grande fazia frio eu estava com um agazalho muito quente. Minha pele começou a descamar. Meu amigo então tirou a camisa que usava e me fez vestí-la. Gestos como esse só poderiam partir de alguém com o nome Carlos Brasileiro.
Agora já nos chegavam os jornais. No primeiro que lí, a manchete: "Grupo de Comunistas assaltam o Paraiban". Dois dias após, ao perceberem o erro que estavam cometendo, voltaram a publicar " Comunistas são presos pichando a cidade".
Após uma semana, nosso advogado veio me ver. A essa altura parlamentares vieram num vôo fretado de Brasília, no intuito de nos soltar. Foi o início de uma longa luta para que eu voltasse a liberdade. Depois de muita negociação, muito sofrimento, muita dor, enfim, a liberdade.
Ao voltar ao meu trabalho na Universidade Federal, meu chefe imediato não me aceitou. Uma nova luta, dessa vez para tentar voltar ao trabalho. Sofri muita descriminações, por pouco não perdi meu emprego. O cargo que ocupava, claro que perdi.
O tempo passou, o país mudou fruto de muita luta, muitos acertos e desacertos. Mas, em mim ainda vive o fantasma da ditadura que me marcou severamente.
Que os jovens continuem nossa luta. Emociono-me quando vejo o povo de volta às ruas. Bom sinal. O povo continua vivo.